28.5.12

Uma Adaptação Séria III

Hoje em dia cada um vive sua própria odisséia pessoal. Um dia inteiro pode ser épico enquanto o outro é um breve capítulo ou nota de rodapé.

Pensamentos sobre a vida e a morte atrapalham o foco no seu trabalho.

O foco no trabalho atrapalhando seus pensamentos sobre a vida e a morte.

(Só no caso de eu explodir)

De repente, o cansaço interrompe minha linha de pensamento. Um cadeirante tentando entrar num ônibus lotado tira a minha atenção. Acho que mesmo no meu quarto vazio eu nao conseguiria escrever sobre os bravos contos de nós, Ulisses. Estou pensando nas dores. Físicas dessa vez. Elas me fazem odiar meu corpo e óbvio, eu mesmo. Um nojo que eu não sentia faz tempo. Penso nos dias que restam até a viagem, quem vou encontrar lá e de como vai ser. Espero que as dores passam até lá... 

Dores físicas e abstratas...

"Quantos dorflex você toma?" Pergunto para uma amiga. Quero (não) sentir algo além das dores.

Uma das três pessoas que me entende me manda uma foto de um monstrinho e ele consegue fazer outro monstro lacrimejar os olhos num metrô lotado.

Quem precisa de um dia se ainda existem instantes maravilhosos?

4.5.12

Uma adaptação séria II


Descendo a rua sozinho, com medo, armado com uma chave que nem sequer era pontuda. O medo de sua mãe herdado para ele. Preocupado, pensou em desistir e ir para casa, mas tinha acabado de chegar onde estava indo. Entrada deserta, uma porta entreaberta. Viu se não tinha ninguém e abriu. Estavam montando o palco. Ainda faltava uma hora para começar o show e era óbvio que ia atrasar. “Amanhã tenho que levantar cedo”, pensou como motivo para ir embora. Daí pensou que da última vez que isso aconteceu tudo deu certo e preferiu atravessar a rua para esperar a fila se formar. Odiava esperar. Odiava filas. Estava sempre adiantado. Pelo menos em seus pensamentos. Quase calculados. Entrou na Fogazzeria e perguntou se eles estavam fechando. Idiota. Nada estava para fechar no baixo Augusta. Tudo começa à noite. Ele sabia disso. Disseram que estavam abrindo. Pediu uma cerveja long neck e escolheu um lugar afastado de um trio de homens que chegaram junto com ele e sentou-se. Enviou uma mensagem para sua mãe, tranquilizando-a dizendo que estava esperando o show começar. Tomou a cerveja devagar pensando em nada e depois em na lan house ao lado para matar o tempo. Decidiu aproveita esse momento sozinho. A cerveja terminou, levantou, pediu outra long neck e uma caneta que pudesse usar. Confirmou se podia mesmo usar a caneta, mesmo ainda em dúvida se ia usa-la ou não. Pegou seu caderno da mochila, abriu nas últimas páginas e clicou a caneta para a ponta aparecer. Desenhou um rosto sombreado e depois desenhou o que achava que sabia desenhar: sua própria caricatura. Desenhou ele mesmo com a boca aberta para variar um pouco e caprichou no volume dos cabelos encaracolados e maltratados pelo dia. Começou a escrever sobre sua descida pela Augusta e de como tinha medo de ser assaltado. Riu. Deu uns goles na segunda cerveja e ao escrever “cerveja” novamente colocou o jota antes do vê. Sinal que estava, sei lá... Disléxico, talvez? Pensou em responder que estava escrevendo sobre ele, caso o mendigo entrasse e perguntasse sobre o que estava escrevendo. Pensou em devolver a caneta, escreveu esta última linha e depois colocou o lugar e a data de hoje. Gostava de registrar as coisas, dando um certo firmamento aos momentos.

São Paulo, 03 de maio de 2012

Fechou o caderno e abriu novamente. Escreveu que quando parou de escrever, levantou a cabeça rápido e sentiu-se um pouco zonzo. Click.

2.5.12

No Bells

O melhor lugar para fumar em paz é do lado de uma igreja a noite. Não sei porque, mas parece que todo mundo que te vê parado e pensativo do lado de uma igreja respeita sua solidão.

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