7.8.13

Com doces nas mãos

Comprei alguns zabaiones para comer em casa na sobremesa e apresentar para minha mãe que nunca comera um. Quase deletei o que acabei de digitar. Não consigo começar este texto. O que eu queria contar é que eu estava com este pacote de doces apoiados no colo enquanto dentro do metro. Eu só pensava em saborear algo doce para disfarçar o gosto de amargura da minha boca. Estou gripado com uma tosse seca e forte. Não estou conseguindo trabalhar direito. Este texto está uma merda. O que eu queria contar era que eu estava com esses doces embalados. Não sei se era a náusea dos remédios com o cansaço mental que eu estava sentindo, mas meus olhares pararam no sapato mais triste que vi na minha vida. De onde estava sentado só conseguia ver um pé - sozinho. Ali na minha frente. Talvez era por isso que achei tão triste. Era uma sapatilha verde musgo. Tinha um laço da mesma cor na ponta. Um laço nem tão grande nem tão pequeno. Tudo parecia velho, sujo e desgastado. E tocava aquele chão também velho, sujo e desgastado. Nem se mexia. O pé ficava lá existindo. E era tão pequeno. Fiquei pensado se pisarem nele. A canela que saía da sapatilha era fina e parecia frágil. Usava uma meia de seda fina marrom. A cena toda era muito triste. Vi a dona da sapatilha. Era uma senhora inexpressiva. Não parecia tão idosa, mas passava dos sessenta anos, certeza. A saliva na minha boca ficou mais amarga, mas eu não conseguia pegar uma balinha de menta. Voltei para o pé e encarei. Com os dedos ela fez pulsar um montinho e o laço triste deu uma respirada ofegante. Tentei fotografar, mas acho que a foto não saiu muito boa. A estação que eu desço era a próxima e não pude imaginar este pé em movimento. Ele estava eternizado naquela posição e tristeza. Parado para sempre. Existindo sem fim. E triste e sozinho. Nada disso faz sentido. Ou eu finjo que não. Não consegui chorar também. Na fiquei com vontade. Será que ela ia descer na Sé também? Esperei as portas se abrirem e a maioria descer. Ela não se mexeu e eu desci correndo antes que perdesse a parada. A senhora com a sapatilha triste foi embora. Sentido Tucuruvi. Imóvel e velha. Desgastada e triste. E eu com doces nas mãos e amargura na boca.

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