31.12.15

Season Finale IX

Anteriormente em Season Finale...

E preparado continuei. Preparado para o que, afinal?

Não sei quantas foram as vezes que passei por esse caminho. A rua antes da ponte. Sem faróis para atrasar o percurso e chegar em casa. Penso que tudo é efêmero. Penso em nada e penso no tudo. Penso que tudo significa nada para mim. Me lembro de explicar o caminho para o motorista. Repeti para vários taxistas para entrar na segunda à esquerda, subir e entrar à direita, virar à esquerda, direita e lá na frente pegar a esquerda. Entre a direita e pode ir reto. Na frente daquele mesmo carro à direita pode parar. Um pouco mais pra frente. Naquela placa de "proibido estacionar". O motorista sempre sou eu, mesmo sem ter o volante nas minhas mãos, a direção eu tenho.

Entro e a luz acesa me esperar como sempre. De novo. A mesma luz que não deixa o passarinho engaiolado dormir. A lâmpada que aquece seu pequeno corpo é a mesma que o deixa irritado.

O barulho da porta pesada abrindo não acorda ninguém. Entro e não sei quantas centenas de vezes o vazio me aguardava. Silêncio. Silêncio e sede. Dou a volta, pulo o sofá, acendo mais luzes e vou ao banheiro tirar as lentes. Meus óculos pesados e sujos me esperam também. Entro na caverna, meu mundo. Bebo da minha garrafa d'água. Tiro a roupa da rua e visto minhas roupas claras e confortáveis.

Quantas foram as centenas de vezes que repeti isso? E até quando irei repetir? Talvez mude o local, mas a companhia será a mesma. Eu. Um. Um é o número mais solitário que já existiu. Assim como a lua que não é só bonita, mas muito distante. Tudo que eu vejo retorna para mim de qualquer jeito. E se eu fugir hoje. Do que fugirei amanhã? A espera do que vem calmo e manso. Do fim. Por isso o susto é grande quando ele aparece. Ele segue seu próprio ritmo vivendo na nossa sombra.

Enquanto isso vivo essa noção que mistura verdades e auto-ilusões convenientes. Como uma propaganda. Viver uma banalidade que leva a nenhum significado maior. Algo especial submetido ao genérico. Agora a questão é se há uma estrada que leva para qualquer outro lugar... para qualquer horizonte perdido.

Eles nos disseram para focar no horizonte perdido. Mas nunca nos disseram o que o foco é. Só vejo distorções adiante - um sonho terrível? Não me pergunte por quê. Sei somente que toda esperança começa e termina com um futuro melhor.

Dependendo do problema, a tarefa a ser resolvida é para encontrar qualquer solução (encontrar uma simples solução é o suficiente). Quando encontrar a solução, uma ou mais variáveis são designadas como desconhecidas. Desconhecidas como o coração que do nada começa a bater lentamente a noite deixando minha mente à deriva e imaginando se o tempo se move em diferentes lados.

Somos todos produtos de nossas escolhas e perdas que fazemos. E como todos os produtos, estamos sempre vendendo algo. Seja uma aparência, um caminho, um amor, uma decisão, um ponto de vista, algo que nossas almas feridas e gastas precisam. E essas cicatrizes mais profundas são aquelas que não podemos ver. Nós conquistamos objetivos e mesmo assim nossa vida não parece do jeito que imaginávamos que seria. "Isso é tudo o que existe?" Sim. Pode ser a resposta no final. Nós nunca mudamos, só nos adaptamos, só flutuamos neste rio, neste mesmo caminho de sempre com novidades apáticas que aparecem para apaziguar o desespero: um emprego novo, mais dinheiro, novas amizades. Nós nunca mudamos, só nos adaptamos.

Nós só gostamos dos começos das coisas. Quando nos focamos no começo não precisamos considerar os finais: aqueles do passado e aqueles que ainda virão. Em vez disso, nós dedicamos nossa energia para um potencial futuro desconhecido.

E qual é a previsão para o futuro desconhecido? Não importa o quão fervorosamente você acredite, todo mundo tem que jogar junto... E "você não precisa de um meteorologista para saber qual direção o vento sopra".

Se você fugir hoje, do que fugirá amanhã? Levante-se e abra os olhos para as vidas que tivemos, as vidas que ainda vamos ter. Levante-se e encare um novo dia. Novas ideias. Levante-se e seja um novo você.

Continua...

26.5.15

Lua

Inatingível e evidente. Me preservo flutuando no alto enquanto você dá as costas para mim só para depois voltar na mesma posição - numa repetição jocosa e angustiante. Você não consegue me tocar e vice-versa. Nos fitamos sempre no escuro. E eu lá em cima: gracioso, vibrante, silencioso e tímido. Te conheço por inteiro, mas você só vê um lado da minha superfície - só o que eu deixo aparecer. As vezes consigo ver meu rosto triste refletido no seu corpo vivo. E nada posso fazer, já que não tenho olhos para fecha-los. Te encaro até o dia ir embora e voltar novamente para te aquecer. E eu só te esfrio. E eu só faço suas ondas ficarem loucas e irracionais e suas noites mais rápidas e quietas. Milhões de anos ao seu lado e nunca te tive. As teorias modernas e antigas dizem que nos separamos logo depois que tudo começou. Mas o mais impressionante de nossa existência é que você não existiria se eu não estivesse tão longe e se não fosse pela sua força que me atrai ao seu corpo ao mesmo tempo que me repele, eu já estaria bem mais longe. Num lugar sem luz, num vazio absoluto - e você também estaria vazio e sem vida. Somos jóias cheia de valor, mas não nos impulsionamos, apenas nos preservamos. Eu te amo porque nossos caminhos se cruzaram e mesmo longe, o nosso amor segue intocável e inatingível. Você é o grande amor da minha vida. Talvez por não consumi-lo, ele ainda existe e é preservado. É um "ter" sem possuir eterno.
Obrigado por me acolher, sinto que nossa história é longa. Espero um dia vencermos a inércia do espaço.

"Tome coragem para falar: do que não sabe, do que deseja e não quer e das suas agruras com seus outros."

13.1.15

O amor é só essa coisa moderna

Ele está sempre longe em outra cidade, ou até mesmo na academia do outro bairro ou na faculdade na Leste. Ele tenta escrever as vezes, mas sempre se distrai. Até aí qualquer um se distrairia devido tanto trabalho. Por isso ela insistiu que ele se obrigasse a isso, mesmo que demorasse um pouco para ele fazer, do jeito que ele faz as vezes. Ela amava quando ele ria e seus olhos ganhavam vida. Ela tinha suas mãos enfiadas em cachos de cabelo depois da festa. Ela não consegue esperar até Janeiro que vem. Talvez faça muito sol e depois muita chuva. Ela sentia uma mistura de medo, surtos de alegria e uma solene antecipação profunda. O amor é só essa coisa moderna.

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