26.5.15

Lua

Inatingível e evidente. Me preservo flutuando no alto enquanto você dá as costas para mim só para depois voltar na mesma posição - numa repetição jocosa e angustiante. Você não consegue me tocar e vice-versa. Nos fitamos sempre no escuro. E eu lá em cima: gracioso, vibrante, silencioso e tímido. Te conheço por inteiro, mas você só vê um lado da minha superfície - só o que eu deixo aparecer. As vezes consigo ver meu rosto triste refletido no seu corpo vivo. E nada posso fazer, já que não tenho olhos para fecha-los. Te encaro até o dia ir embora e voltar novamente para te aquecer. E eu só te esfrio. E eu só faço suas ondas ficarem loucas e irracionais e suas noites mais rápidas e quietas. Milhões de anos ao seu lado e nunca te tive. As teorias modernas e antigas dizem que nos separamos logo depois que tudo começou. Mas o mais impressionante de nossa existência é que você não existiria se eu não estivesse tão longe e se não fosse pela sua força que me atrai ao seu corpo ao mesmo tempo que me repele, eu já estaria bem mais longe. Num lugar sem luz, num vazio absoluto - e você também estaria vazio e sem vida. Somos jóias cheia de valor, mas não nos impulsionamos, apenas nos preservamos. Eu te amo porque nossos caminhos se cruzaram e mesmo longe, o nosso amor segue intocável e inatingível. Você é o grande amor da minha vida. Talvez por não consumi-lo, ele ainda existe e é preservado. É um "ter" sem possuir eterno.
Obrigado por me acolher, sinto que nossa história é longa. Espero um dia vencermos a inércia do espaço.

"Tome coragem para falar: do que não sabe, do que deseja e não quer e das suas agruras com seus outros."

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