{Vendo Má Educação}

Odeio mentir,mas minha mãe me encheu a paciência dizendo que meu padrinho não é meu pai.
Sei que não é mas fiquei muito nervoso e triste com isso.
Ele é a pessoa que eu mais respeito.Que mais tenho admiração !
Outras coisas mais foi dita por ela,então resolvi ir na "biblioteca" (hehehe) para ver Má Educação.
Mas antes disso quase que não puder ver de jeito nenhum !
Liguei para confirmar no shopping se eu poderia mesmo entrar.
Disseram que não.Mas eu entrei no Kill Bill (18 anos) e também posso entrar no Má... !
Má Educação é mais forte.Beleza então !
Vejinha na mão fui ligar para mais cinemas,nenhum,não poderia ver o filme.
Até que encontrei o HSBC Belas Artes !

O HSBC Belas Artes estava passando o filme com censura de 16 anos,então fui para lá !
Muito chique e gostoso o cinema,cheguei cedo de mais no cinema porque o Ana Rosa demora
muito aqui,então quando cheguei lá comprei meu ingresso,subi as escadas e fiquei uma hora lendo Os Sete,to quase acabando,quero ler logo O Guia dos Mochileiros das Galáxias e Olga.
Fui o primeiro a entrar na sala,enorme,348 lugares,mas só 30 pessoas.

Como é bem diferente de shopping,não tive problemas que tive em determinados filmes :
-O Gato (menina empurrando minha poltrona pra frente,fui pra trás com tudo e acho q quebrei o pé dela.);
-A Vila (dois imbecís falando sobre o filme e outras coisas,tive que dar um "Chiiiuuu" bem alto.);
-O Exorcista : O início (apesar da porcaria queria prestar atenção,mas uma mulher não deixou,se fazendo de maravilhada durante toda a projeção...Soltei outro "Chiiiuuu".),
-Olga (Dois reais o que poderia esperar ?Cheio de estudantes bagunceiros,gritando,pulando e etc...).
Depois do filme liguei pra minha mãe dizendo que acabara de resumir o livro ; ).
Pra ela não ficar preocupada...
Na Consolação peguei ônibus errado e pra voltar pra Paulista tive que andar pra cacete.
E o tempo passava,e minha mãe desconfiava.
Na Paulicéia não resisti e comprei um Yakisoba de rua,três reais e muito bom !
No momento em que paguei o chinezinho meu ônibus passou !E lá o ônibus demora muito!
Depois de meia horachega meu ônibus;dentro,minha mãe me liga umas 3 vezes ai eu pensei :
"Fudeu !".
Mas deu tudo certo...
Quase tudo.

Quando cheguei minha tia que dá aula pra mesma escola q a minha me perguntou onde estava,que traalho era aquele,nome da professora,dia da entrega.Desconfiou.
Eu também pisei na bola,devia ter dito Microcamp ou CNA em vez de Tolosa...
Alimentando a Fifi ela disse que eu tava mentindo e veja só...ess é a melhor....na hora fiquei puto,nervoso,agora dou risada.

"Você costumava andar com o Jefferson e não quero que você fica fazendo coisa errada!
E se você pegar uma doença ?! Foi encontrar alguma pessoa ? Um menino ?!"

Nossa,como fiquei nervoso...ela pensou que eu fosse gay !

"O Jefferson tinha a vida dele,eu tinha a minha.
Não sou viado!"

Quando brandei o último me lembrei de Madame Satã,na cena em que ele é impedido de entrar num certo lugar.Bárbaro Lázaro Ramos.
Tive que contar pra ela tudo.Quase tudo.Disse que tinha ido num shopping mais perto de casa.
Segredo guardado.
Ufa...

Meu horóscopo para amanhã :
Paciência e tolerância, ariano, pois da manhã de hoje até 20/12 Mercúrio estará Retrógrado. Outra vez?! Sim, as coisas vão andar mais lentamente. Pois é, mas isso poderá ser uma lição de vida: aprender a esperar. Medite... Nessa fase, não adianta fazer pressão. Se ficar ansioso, arranje algo pra se ocupar. Faça bem a sua parte e aguarde os resultados.

Amanhã é dia 30...
Que a Força esteja comigo !

{Má Educação}


Mil novecentos e sessenta e quatro.
Colégio católico,Madri.
Padre Marolo é apaixonado por Ignácio.
Ignácio e Enrique são apaixonados.
São descobertos e separados.
Mil novecentos e oitenta.
Enrique é cineasta e recebe a visita de
Ignácio,que é ator e lhe entrega "A Visita",um roteiro
baseado na infância dos dois,mas é ficção
no momento em que se tornam adultos.
Enrique resolve filmá-lo e Ignácio interpreta
Zahara,ele mesmo,mas travesti.
No término das filmagens Enrique e Ignácio
recebem a visita de Padre Marolo.

A passagem cronológica usada por
Almodóvar mistura ficção e realidade,
mesclando histórias,que ganha um
aspecto noir.
Marcas registradas de Almodóvar se encontram
no filme: muitas cores,muita Espanha,travestis dublando
cantoras espanholas imortalizadas,muito drama
e homossexualismo.

Má Educação se iguala aos outros do diretor,mas mesmo assim
surpreende e emociona com um roteiro muito bem escrito,
técnicas de filmagens e ângulos genias,trilha sonora agradável
e diálogos marcantes.

"Nesse momento perdi minha fé.Não acredito mais em Deus,não
acredito mais no Inferno.Se não acredito mais no inferno não tenho
mais medo.E sem medo posso fazer qualquer coisa."

Gael García Bernal (Ignácio) faz uma personagem complexa
e misteriosa,e consegue (mais uma vez) mostrar isso.
Adorei todos os filmes dele,exceto O Crime do Padre Amaro,e
por incrível que pareça ele se superou pela atuação em
Diários de Motocicleta.
Presença muito especial de Javier Cámara (Fale com Ela)
como a amiga travesti de Szara.Engraçadíssima.


Muito íntimo de Almodóvar,mas ele diz
que não é uma autobiografia,apesar de ter
vivido momentos do filme.
Entrou pro meu TopTop.

Próximo post:
Vendo Má Educação.

Feito por Mike.

{O medo da mãe}
---Ao som de R.E.M. - Daysleeper---

I’m the screen the blinding light
I’m the screen I work at night
I see today
Don’t wake me with so much the
Ocean machine is set to 9
I’ll squeeze into heaven and valentine
My bed is pulling me
Gravity
Daysleeper daysleeper
Daysleeper daysleeper daysleeper

De uns tempos pra cá minha mãe tá muito medrosa.
Sei que moramos num caos e blá,blá,blá,mas me mandar
um email dizendo que gangues estão assaltando dentro
de salas de cinema,e alguns outros colocam seringas
com o vírus da HIV nas poltronas e se você sentar leva
a picada e encontra um bilhete dizendo "parabéns,agora você tem aids",
é paranóia !!!

Hoje fui na 1ª comunhão da minha tia,missa simples,na volta
ela ficou uns 15 minutos me perguntando qual caminho é o
melhor,onde haveria menos assaltos.
Quando dá seis horas da tarde ela manda eu fechar
a janela do quarto porque o pessoal pode ver o que tem dentro,
computador,tv,dvd...
Meu quarto fica no meio de um corredor grande e pra verem o que
tem é preciso ir na dentista do lado e pedir pra espiar pela janela !

Fica sempre olhando pro lado,com cara de assustada,pede
pra minha vó tentar não sair de casa pra não deixa-la vazia e
sozinha.
Sei que tem procupação que vale a pena se preocupar,
mas isso é demais !Ela tá ficando paranóia !

Dia 30 está chegando e estou muito ancioso.
Continuem torcendo.

Quarta vou ver A Má Educação e ontem
terminei o template do blog para 2005.
Está mais limpo e sem verde.
Tchau...

{Resumo do que está acontecendo}
---Ao som de Drugstore - El President---


*Suspiro*
Meu plano para ver Má Educação foi por água abaixo.
No dia minha vó estava com dores na perna e muito gripada
e iria cuidar do meu primo.Já pensou se acontesse alguma
coisa...aiai.Mas quarta eu vou !Faça chuva ou faça sol !
Enquanto espero anciosamente aluguei De Salto Alto,do Almodóvar,
dos anos 90.Depois eu comento.

Terça senti umas vibrações péssimas aqui no meu quarto.
Um cheiro de hospital,não conseguia dormir,um arrepio nas costas.

Está acabando minha penúltima semana de aula...do ano !
Nunca senti tanta felicidade !
Ainda tenho provas e trabalhos,mas se consegui fazer num ano,
faço numa semana !
Mas hoje descobri que minhas férias de Web só será de uma,duas
semanas no máximo !
Que merda !

As filmagens do documentário estão quase terminando,falta muito
pouco...Combinamos de terminar no Pilequinhos tomando batidas...

Dia 30 farei algo que,se der certo,mudará minha vida completamente !
Ninguém daqui de casa sabe...Só quem está envolvido,umas 5 pessoas.
Dia 30,à tarde,torçam por mim !

Hoje,voltando para casa,quando passou do ponto da Clementina
comecei a pensar e pensar...até que me fiz uma pergunta:

Quem será a pior pessoa do mundo ?
Deixo pra vocês...

{Caiu na rede é peixe!}

Meu primo (7 anos) me pediu pra ir no cine com ele.
Íamos ver Turma da Mônica,mas não estava passando =D.
Fomos ver O Espanta Tubarões,tudo bem,minha tia
pagou mesmo.

Pensei que ia ser uma inveja do sucesso de Procurando Nemo,
mas não é...O mundo aquático de Espanta é mais surreal do que Nemo,
mas mesmo assim consegue ser muito humano.Veja Lenny por exemplo,
filho de um poderoso chefão (a melhor cena do filme é quando parodia-se
os mafiosos).Voltando ao Lenny,que é um tubarão vegetariano que não quer
herdar a profissão do pai e se veste de golfinho.
Adaptando-se para nosso mundo,ele seria gay.
Gostei muito do que os roteiristas fizeram,querendo retratar esse mundo
sem preconceito.
"Eu te aceito apesar do que come e como se veste."Diz Don Lino (Robert de Niro).
Outro exemplo de retratação humana é o Oscar,o peixe protagonista.
Ele é um zé roela,que trabalha num lava baleias e deseja ser um boa praça,
morar na cobertura do recife e ser conhecido.Numa situação favorável para ele,
Oscar mente dizendo que matou um tubarão e assim se torna o Espanta Tubarões
do título.Como toda animação infantil,tem sua moral da história.De resto,piadas
bobonas e poucas engraçadas.
Não é um Shrek,mas também não é um Alegrifes e Rabujos.





Sábado filmamos o 3º bloco do documentário.
Era sobre religião no bairro,além de muito
divertido fiquei sabendo como surgiram os
mórmons...
Domingo assisti Van Helsing (grande merda),só
gostei do lobisomem,e assisti também
O Encontro,suspense "teia-de-aranha" estrelando
Christina Ricci,interessante,nada mais.
Assistem Monster - Desejo Assassino,com Ricci
e Charlize Theron,quem tem uma boa história,
frases memoráveis e lição de moral bacana.

Hoje,vindo do cinema,bolei na cabeça
meu plano para ver o novo de Almodovar.

--Ao som de Marisa Monte,memórias,crônicas e declarações de amor--

{A "mãe" educação}

Ontem,olhando alguns sites de cinema,fui ver os
lançamentos de amanhã.Fiquei muito ancioso,
porque A Má Educação (novo do Almodovar)
estreiará !!!
Quero também ver Meninos de Deus,iria aproveitar
e assisitr os dois no Cine DirecTV (Augusta),e comentei pra minha
mãe que quero ver...Ela ficou nervosa do nada !
Disse que eu já tinha ido no domingo e na segunda e que não
iria mais pelo menos esse mês.
Não sei porque isso...Ela não gastou nada com os filmes
anteriores :
Exorcista foi de graça e Olga,minha tia me deu 5 reais !

Todo mundo aqui em casa ficam falando que eu to
viciado em cinema.Meu Deus,que injustiça !
Eu odeio injustiça !
Tem pessoas q eu conheço que falam que vão
para um lugar e vão se drogar,roubar,qualquer coisa
que a sociedade (não eu) julga ruim !
Eu só quero ir no cinema !
Ver um filme do Almodovar!
E ela não vai bancar nada,na verdade,
só a língua pra dizer "Eu deixo.".

Relaxa mãe,e nem se preocupe,
porque de ruim,só os personagens
do Almodovar...
"Se continuar assim,o último dia que você
me verá vai ser no dia 14 de abril de 2006."
Queria dizer isso pra ela,mas não gosto de
magoar certas pessoas.
E olha que eu não falo que ela não me deixa
ir para baladinha,e as que eu gosto não é
techneira,gosto de drum'n'bass,groove,etc...

Mãe :
quer um Lexotan ou prefere Maracujina ?

{A Olga global.}

O CineMark realizou na segunda o V Projeto Brasil.
Nesse dia,só fica em cartaz filmes brasileiros a 2 reais cada !
Fui ver Olga.

Olga Benario,militante comunista,é uma soldado
que no decorrer do filme se transforma em mulher.
No lugar de mostrar toda a garra da comunista,o filme
passa essa fase despercebida e dá lugar ao romance
entre Olga e Luis Carlos Prestes.
Digno de novela global,o diretor do filme,aliás,
dirigiu o dramaleco "Terra Nostra",o filme tem
fotografia e figurino digno de produção estrangeira.
Camila Morgado vive uma Olga séria,que no decorrer
se desmancha de amor por Prestes,uma boa atuação
que poderia ser melhor trabalhada.
No começo o filme é chato e só começa a ganhar
força quando os pombinhos correm perigo,ai,quando
Benário vai para o campo de concentração alemão,o filme
tem belas cores acinzentadas,dando um aspecto hostil
do campo.
Quem rouba a cena é Fernanda Montenegro (mãe de Prestes)
lutando pela liberdade de ambos.
Olga Benário morreu em 1942 numa câmera de gás.
Fiz essa montagem do filme no photoshop,só para treinar...


Se não tivesse o dedo da Globo,
seria a estréia nacional do ano!

{O Fim do Exorcismo.}

Uma boa idéia,um diretor morto,
um demitido,um outro bobão,
uma fotografia ótima,maquiagem ridícula
e efeitos babacas.Isso resume Exorcista: O início.
Assinante da revista MTV tem cinema de graça.
E que cinema !Já ganhei ingresso pra Mulher Gato e
outros filmes hollywoodianos teens ou blockbusters.
Então só fui ve-lo porque foi de graça e pela curiosidade.
Curiosidade mata.

Se você já viu O Exorcista (clássico do terror) percebeu
que o capeta no corpo da garotinha clama pelo Padre Merrin
e demonstra que já o conhece.
Exorcista IV tenta mostrar esse encontro.
O filme é muito longo e Merrin,que no filme desistiu de ser
padre porque perdeu sua fé devido a experiências vividas
na 2ª Guerra.Agora ele é arqueólogo e é designado pra uma
missão com o objetivo de encontrar uma peça de um demônio
místico,onde se descobriu uma igreja,que supostamente,
seria o lugar onde Lúcifer caiu no final da guerra no paraíso.
Chegando lá,coisas estranhas começam a acontecer.

O suspense é legal,poderia ser melhor.
A parte do exorcismo é fraca e cheio de efeitos
especiais insignificantes para a história -
o capeta tem o poder de andar pela parede -
economizaram muito no filme,nem para colocarem
animais de verdade (tem até moscas digitais !!!).

Sobre o capeta,a maquiagem é no estilo
Noites do Terror do Playcenter,
super sem graça e nem amedronta criancinhas
e o pior de tudo:
num determinado momento,para não ser
exorcizado,ele pega uma criança como
refém (!!!).

Para um filme que foi filmado duas
vezes e ainda cheio de confusões,
merecia um tratamento especial.
Chega a ser hilário - tem até um
exorcismo africano e parece que os
katanas cantam Tumbalacata da Vovó Mafalda.

Coitado do Padre Merrin,enfrentou o pior
demônio de sua vida,é o fim do exorcismo (?).



Pra terminar o passeio de domingo,
uma companhia perfeita (Ju,beijos),
um cdzinho de músicas cinematográficas (11,99)
e um milkshake de Ovomaltine do Bob's.

{Na ponte.}

Hoje começou a filmagem do documentário
sobre a Casa Verde.É um projeto de fim de semestre
do CNA,e é o segundo no qual eu participo.
O primeiro foi uma adaptação ao inglês de
Mulheres Apaixonadas.Foi muito divertido.
Nesse doc. também sou o cinegrafista
e as vezes atuo como diretor,ajudando
a Regina com ângulos,técnicas e também
dou dicas para a trilha sonora.
Hoje,enquantos filmávamos
na ponte da Casa Verde tive a idéia
de colocar George Harrison cantando All Those Years Ago
nas cenas da ponte.
O grupo é muito bom.
Armando gente fina pra caramba,
Mara é muito engraçada e bonita e a
Fabi é uma ótima pessoa,bem humorada.
Pela ordem que estamos seguindo creio
que acabaremos logo,diferente do primeiro
projeto...
Mas o 1º doc. foi muito mais técnico,
eu montei um cinema numa salinha no CNA,
Regina e eu fizemos um verdadeiro hospital usando
uma poltrona-cama e um lençol branco !!!

Ontem cortei meu cabelão,mas não careca!
Estou com cara de "mais maduro" e dá até
pra fazer um moicanozinho...
Meu vício por Kill Bill ainda não acabou,
continuo ouvindo Malaguena Salerosa (que fecha
o volume2) e ontem peguei meu cartaz na locadora.
Que já está na parede do meu quarto!
Domingo verei O Exorcista : o início,
só vou porque é de graça,nada vai substitiur
o original...e segunda tinha planos para ir ver Nina,
mas não está passando no Cine Santana apesar de ter visto
o cartaz do filme...Só tá passando na região da Paulista e
no Sul,mas minha mãe não deixará eu ir....Vamos ver...
Segunda escrevo a crítica do Exorcista.

Obrigado Eve,a mais nova leitora do Adaptations,pelo
comentário muito simpático.Beijos e abraços!
Agora vou ver Terra dos Sonhos.
Fui.

{Para sempre no meu coração.}

Dom Casmurro - Capítulo II
Machado de Assis

Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão.
Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos biocos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa.
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior, é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.
Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios, menos seca que as memórias do padre Luís Gonçalves dos Santos relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas, como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras?...
Fiquei tão alegre com esta idéia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.

Hoje,na rua vi tantas pessoas bonitas,tantas coincidências
e surpresas,o que adoro !
Pelo menos hoje,o mundo me recebeu com um sorriso
e com um calor intenso.
Sobre o livro,é indiscutívelmente perfeito.
Abraços...