31.12.17

Season Finale XI

Anteriormente em Season Finale...

Lembro que na temporada anterior eu clamei pelo inédito. Por algo que nunca tinha visto antes. E fui bem recompensado.

Visitei lugares inesperados e outros que já esperava há muito tempo. E foi tão familiar.

Pela primeira vez fiquei sozinho de verdade. Sou um ser solitário, mas sozinho foi a primeira vez. O que o futuro me reserva não foi do meu agrado. O que eu faria para mudar o que me espera?

Nada o que pode ser mudado, mas muito o que pode acontecer. Sou absolutamente um iniciante. Percebi isso nesta temporada ao me deparar com o inédito que sempre pedi aos céus.

Em sonhos eu sou levado ao reconforto. Tudo é do meu agrado, tudo é uma novidade e caso eu tenha algum problema ou os sonhos se transformem em pesadelos, eu acordo e está tudo certo.

Ou acordo para a realidade. A realidade sem controle. A realidade desigual e assustadora. A realidade da rotina. A realidade de elevador sem fim, que vai de andar em andar sem nada para acontecer. Subindo, descendo, qual a diferença?

Vou sonhar um dia que somente existirá minha imaginação. A única condição real é estar sozinho. Ontem me fiz de ridículo, mas isso não me afeta hoje, e pedi perdão. Esta tarde, embora ainda nada realmente aconteceu, fui andar por aí e fiz retratos anônimos. Finalmente veio a noite e acendi a luz. Finalmente, um dia de calma inventada!

Eu já ouvi esse som antes. Esta voz. Eu nunca a ouvi na minha casa. Nunca a escutei no meu quarto. Esta voz pertence a lá fora. Nas ruas. A voz me carrega para fora. A voz sem um rosto. Somente a voz. E ela penetra em meus ouvidos. Descendo até minha garganta. Eu a sinto enfraquecendo meu estômago. E então, o silêncio. E nada. E a escuridão. Eu sinto o chão nas minhas costas. Os fantasmas de março ainda estão aqui. E amanhã tudo se repetirá. Vamos todos torcer para que tudo isso termine logo.

Seria estes meus comentários mais lúcidos do que os outros?

Só o distante passado dirá quando o futuro do presente chegar. Quando o invisível se tornar visível. Quando esquecermos o passado sombrio, quando chegarmos a paz sublime. Para uma pessoa traumatizada. Há inúmeras pequenas coisas queimando dentro de mim. Se retorcendo para chegar à superfície. Um novo mundo está chamando um novo homem.

Continua...

1.8.17

As coisas que eu ouvi, revisitadas

Ser sempre sendo azedo e seco.
Fingir sorrisos cordiais e simpatia.
Dizer não dizendo cabeça baixa quase oca.
Ouvir engolir passar outro dia de novo.
Repete a fora sem razão palavras que os outros querem ouvir.
Concordar sem concordar só pra ver o dia passar.
Deixar de lutar batalhas de ego para não desgastar.
Sentir a razão de ter evitado um problema que tinha solução.
Olhar sem olhar passando em branco.
Anotar na cabeça argumentos futuros.
Não cobrar pelo que te cobram, não dever pelo dever que te pedem.
Poder sem escolher dizer algo.
Não desfazer o que foi dito.
Ser o pequeno porque não há espaço para muitos grandes.
Ignorar.
Sorrir.
Acenar.
Cuidado.
Ao consertar algo quebrado.
Talvez você pode ser cortado.
Pelos pedaços estraçalhados.
Olhe para suas mãos.
Estão cobertas de cicatrizes.

27.7.17

Nenhuma estrela me alcançou hoje

Nenhuma estrela me alcançou hoje. Não tive que parar na frente de nenhum tanque de guerra. Não tinha chegado nem na metade do dia e já tinha tomado mais de cinco medicamentos. E um banho. E três copos de café.

Ainda não encontrei a paz em mim mesmo. Dizem que leva anos, mas não tenho a paciência. A saída é me encontrar nela eu mesmo.

Os níveis da minha audição estão baixos. Tenho a desconfortável sensação de estar debaixo d’água. Ouço os ruídos mais distantes. O ar pesado só sai de uma narina. A direita. As mucosas nos seios da minha face atrapalham a circulação do ar. Do ar reciclado. Do ar reciclado que os outros também respiram. Do ar respirado pelos outros. Pelos outros desconhecidos. Com suas próprias doenças desconhecidas.

O sistema respiratório está falido. Insisto em falir eu mesmo. Continuo a fazer fumaça internamente. Os ouvidos não estalam mais. Estão entupidos. Parados. Esta é a real.

A realidade cumpre a promessa dela mesma. Porque importa, porque registra nossa maneira de viver, porque às vezes basta. Não digo que basta para o bem ou para o mal. Apenas que simplesmente a realidade às vezes é o suficiente. Suficiente para respirar, ouvir, comer, abraçar, violentar, pensar, sonhar, sentir, viver e morrer.

Tenho certo apego ao fracasso. Não acredito ser algo ruim. Depende do ponto de vista de quem tem sucesso. Não quero para mim o que um verdadeiro perdedor tem como recompensas. Sinto que desistir é um fetiche. A glória que existe em um fracasso verdadeiro chama minha atenção. Os fracassados têm um charme único. O brilho de um vencedor é muito irritante. Ofusca minha visão. A altura do pódio é altíssima. E eu não tenho medo de altura. Nem de me espatifar da queda livre. Mas o chão me atrai. Mais mesmo que sua gravidade obvia e inevitável. Também não é comodismo. Prefiro sempre a adaptação. Por isso o sucesso não me atrai. É preciso mante-lo. Ser invencível. Ter uma pela boa. Bons contatos. Negócios bem feitos. Mirar alto. Ser ambicioso. Não. Um tombo pequeno não me aleija. Um rosto feio evita olhares minuciosos de terceiros (ou os intensifica). Um grupo seleto me satisfaz (mesmo que por pouco tempo). Não disse quantos grupos seletos. Transito entre vários. Vários momentos.

Eu não cultivaria plantas que precisam de água e sol todos os dias, nem de animais que necessitam cuidados especiais. Eu não me casaria com seres humanos, porque eles interfeririam o meu cotidiano e esse é cheio de pequenos cuidados com tudo aquilo que eu não me responsabilizo em ser meu. Porque a posse é algo absurdamente chato e limitador.


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