15.2.24

bye

29.8.23

Estar até não estarmos.

Às vezes é só preciso estar. Estar até não estarmos. Como uma estrela a 13 bilhões de anos de distância. Como uma estrela que vemos, contamos com o dedo e não existe mais. Estar no centro da cidade mais movimentada e cheia de um país já superlotado. Estar aglomerado com milhares de desconhecidos e desencontros únicos com Luiz Gonzaga Jr. nos meus ouvidos com as pernas no mundo. Só preciso estar. O presente e o futuro. Dias frios e dias quentes. Dias sim, noites também. Insônia. Quartos abafados quatro patas nas minhas costas. Uma caricatura de agora pausa o momento. Eh preciso estar. Estar com consciência de crise. Estar com fome de dopamina e sede de nada. Estar só. Acompanhando. Bem acompanhado. Estar off. Desligado em telas e em telas e em telas e em telinhas e em luzes azuis hipnotizantes que contam histórias inventadas de super-homens em colantes coloridos. E na real? Existe uma realidade? Imagino que não. Então narro o que vejo e sinto. Estar ao redor dos outros não centralizado na minha própria rotação sem que a agulha me alcance. Linhas tortas e riscadas. Nada reto. Sem retorno. Apenas o absoluto. E estar. Silêncio. No hay nada. A gravidade fecha meus olhos. Ser e estar num mesmo verbo. Verbo que obriga uma ação, um processo, um estado. Um estado de estar e ser. Sendo. E um vento gelado estapeia minha cara. À margem vejo cenas de Reichenbach ripadas de uma vida de videoteipe mofada e o verbo vira palavra que vira um texto que vira um roteiro que vira um filme que vira uma memória que foi que vira saudade que vira mais nada e termina aí. Continua.

19.6.23

SinfonIA do vazio

As horas passam em um ritmo indolente, arrastando-se em uma rotina tediosa que me sufoca. A vida, como um incessante e enfadonho relógio, parece ter perdido toda a sua cor e vitalidade. Sou um artista sem inspiração, incapaz de criar e transpor para o mundo minhas emoções mais profundas.

A monotonia cotidiana é um fardo pesado que carrego, corroendo lentamente minha alma inquieta. Cada dia é uma cópia pálida do anterior, como se o universo conspirasse para me manter em uma prisão de tédio insuportável. A luta pela sobrevivência se transformou em um vazio sem sentido, no qual me afogo diariamente.

No trabalho, sou um mero espectador, um autômato que realiza tarefas sem qualquer propósito. Minha mente vagueia em um mar de desinteresse, e cada segundo se arrasta como uma eternidade. Meus colegas de trabalho, com suas conversas vazias e suas preocupações mundanas, parecem habitar um universo paralelo distante do meu.

A tristeza se alojou em meu coração como um hóspede indesejado, consumindo minhas esperanças e sonhos. O prazer que antes encontrava nas coisas simples da vida se dissipou, deixando apenas uma névoa sombria em seu lugar. Não tenho mais vontade de encontrar pessoas, de sair de casa e me envolver com o mundo. Tudo o que desejo é me isolar, me perder em meu próprio abismo de melancolia.

A alienação parece ser a única resposta para minha desolação. As palavras e cores que costumavam me cativar se tornaram cinzentas e vazias. A luz que iluminava minha imaginação se apagou, deixando-me em um estado de letargia e desespero. Meu coração se recusa a bater com o entusiasmo e a paixão de outrora.

E assim, aqui estou eu, perdido em um mar de tristeza e apatia, sem um farol para me guiar de volta à costa. Anseio por uma chama que incendeie minha alma novamente, que me impulsione para além da desolação e me leve a explorar novas fronteiras da existência. Até então, permaneço cativo nesta prisão da mente, sonhando com a possibilidade de um renascimento interior, esperando que a vida me surpreenda com sua magia perdida.

11.7.22

Antes de eu recomeçar a dançar

Mesmo morto você continua a me proporcionar experiências novas. Nunca tinha chorado numa pista de dança, nem sentido saudades enquanto dançava. A escuridão alternada rapidamente com luzes brilhantes misturada à uma fumaça cheirosa que embala os corpos presentes, felizes e embriagados. E a música... ah, a música. Aquelas que penetravam nossos corpos e mentes e nos eletrizavam. Ombrinhos. Buzuzu. Memórias. Danças inacabadas. Olhos embaçados. Espelhos reais em banheiros nojentos. E agora nunca mais dançarei com você. Estalam-se os dedos e desaparecemos por completo.

A ignorância da morte é o que nos mantém sãos ao longo de nossas vidas cotidianas? Seria o oposto o que nos levaria à insanidade? Atentar-se aos sinais da brevidade da vida poderia finalmente colocar fim à ansiedade esfomeada da consciência?

Eu só vejo saída para tristeza se houver música, seja ela qual for, aquela vontade de dançar contida no seu corpo, um arrepio que toma conta do seu corpo, conto que isso poderá nos salvar.

Foi estranho voltar a dançar numa sala cheia depois de 3 anos de algo que apelidamos de "distância social". Feliz, triste, feliz de novo. Você fez e faz muita falta, isso é verdade. Mas sozinho não estou. O "apesar de tudo" que realmente conforta e se faz "tudo". Não tenho do que reclamar, fato. Alguém me conduz para fora da escuridão antes de eu recomeçar a dançar sozinho.

28.9.21

Erosão

Incapacidade. Incompetência. Inércia. Incompleto.
Sinto minha vida sem mim.
O frio no esôfago é diário.
Ele sobe pelo meu pescoço, agarra minha respiração e sufoca o que eu gostaria de fazer. Qualquer coisa. Não há moção, vontade, emoção. Não há nada neste tudo borbulhante. O frio do esôfago cristaliza-se em olhos marejados. A tristeza bate como uma onda avança numa rocha fincada nas areias do tempo.
Uma rocha como eu.
Uma rocha inerte. Desfazendo-se aos poucos pela erosão que a água traz.
Incapaz. Incompetente. Sem valia. Inerte. Incompleto. Rodeado sem saída.



31.12.20

Season Finale XIV

Anteriormente em Season Finale...






















Como sabemos que o fim chegou?
É o aviso de uma doença terminal? Quanto tempo temos?
Essa é a beleza do fim. Sua surpresa. Vêm sem aviso. "O começo do fim". Isso não existe.

Se na temporada anterior eu saí de uma caverna escura e claustrofóbica para perder a conta de quantas estrelas existem e existiram, neste ano eu fitei o infinito - em sua beleza cósmica.


O infinito finito. Não temos noção de sua grandeza, seu fim, seu começo. Que belo paradoxo. Mas sabemos que terá um fim pois a expansão termina assim. Mas não estaremos aqui. Nem eu, nem você, nenhum ser humano. Um final sem testemunhas. Como é hoje. Sabemos apenas do fim. Que ele vem. De resto, nada sabemos. Escuridão e nada. Universo. Espaço. Sem calor, sem energia. Sem testemunhas. Portanto, já estamos finalizados. Já estamos no fim. Cada um em seu particular derradeiro último suspiro sem aviso.


Foi uma temporada de muitos fins - cada indivíduo experimentando o seu próprio de alguma forma. Com surpresa e sem aviso, muitos terminaram. E eu, novamente, na companhia de um final. Uma amizade que agora só existe comigo e de quem permanece como testemunha. Evaporando de existência à lembrança em questão de segundos. O tempo necessário para finalizar. É assim que termina? Foi assim que terminou.


Eu sei que terminou. Mas ao mesmo tempo, reluto e duvido. Ainda nos imagino tomando um café charmoso na entrada de um museu. Compartilhando momentos e registrando-os em RGB. Depois você me pediria este registro em preto e branco. Eu gostaria que você estivesse por aqui. Gostaria de contar com sua presença a uma mensagem em áudio de distância.


Ficaram as lembranças, a memória, os aprendizados e as outras amizades que conectamos durante um breve espaço de tempo. Nossas coleções compartilhadas, nossos laços invisíveis, nossas risadas descontroladas, nossas autodestruições, nossos venenos, nossos pensamentos freaks, mas com amor. Sempre com amor. O seu amor, terminou. Eu sei que terminou. Mas o meu amor por você estará comigo até o meu fim.

Não foi uma temporada com finais apenas. Um começo novo foi fundamental. Um novo amor compartilhado. Leve e intenso. Divertido, despretensioso. Novos sorrisos.


E eu me renovei. E de novo, voltando a mim mesmo. E de novo, estava perto de mim, só eu não enxergava. Dessas coisas irônicas da vida. Uma parte de mim, aquela esquecida, se renovou. Outras, claro, se mantêm firmes. O objetivo continua o mesmo – não fazer mal a ninguém. O sonho de ter uma alma livre de apegos desnecessários também. O foco, a caridade e o aprendizado. Contudo, o desejo agora é estar dentro de um abraço. O sentimento se renovou de tal forma, que a leveza é insustentável.


Continua…


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