27.7.17

Nenhuma estrela me alcançou hoje

Nenhuma estrela me alcançou hoje. Não tive que parar na frente de nenhum tanque de guerra. Não tinha chegado nem na metade do dia e já tinha tomado mais de cinco medicamentos. E um banho. E três copos de café.

Ainda não encontrei a paz em mim mesmo. Dizem que leva anos, mas não tenho a paciência. A saída é me encontrar nela eu mesmo.

Os níveis da minha audição estão baixos. Tenho a desconfortável sensação de estar debaixo d’água. Ouço os ruídos mais distantes. O ar pesado só sai de uma narina. A direita. As mucosas nos seios da minha face atrapalham a circulação do ar. Do ar reciclado. Do ar reciclado que os outros também respiram. Do ar respirado pelos outros. Pelos outros desconhecidos. Com suas próprias doenças desconhecidas.

O sistema respiratório está falido. Insisto em falir eu mesmo. Continuo a fazer fumaça internamente. Os ouvidos não estalam mais. Estão entupidos. Parados. Esta é a real.

A realidade cumpre a promessa dela mesma. Porque importa, porque registra nossa maneira de viver, porque às vezes basta. Não digo que basta para o bem ou para o mal. Apenas que simplesmente a realidade às vezes é o suficiente. Suficiente para respirar, ouvir, comer, abraçar, violentar, pensar, sonhar, sentir, viver e morrer.

Tenho certo apego ao fracasso. Não acredito ser algo ruim. Depende do ponto de vista de quem tem sucesso. Não quero para mim o que um verdadeiro perdedor tem como recompensas. Sinto que desistir é um fetiche. A glória que existe em um fracasso verdadeiro chama minha atenção. Os fracassados têm um charme único. O brilho de um vencedor é muito irritante. Ofusca minha visão. A altura do pódio é altíssima. E eu não tenho medo de altura. Nem de me espatifar da queda livre. Mas o chão me atrai. Mais mesmo que sua gravidade obvia e inevitável. Também não é comodismo. Prefiro sempre a adaptação. Por isso o sucesso não me atrai. É preciso mante-lo. Ser invencível. Ter uma pela boa. Bons contatos. Negócios bem feitos. Mirar alto. Ser ambicioso. Não. Um tombo pequeno não me aleija. Um rosto feio evita olhares minuciosos de terceiros (ou os intensifica). Um grupo seleto me satisfaz (mesmo que por pouco tempo). Não disse quantos grupos seletos. Transito entre vários. Vários momentos.

Eu não cultivaria plantas que precisam de água e sol todos os dias, nem de animais que necessitam cuidados especiais. Eu não me casaria com seres humanos, porque eles interfeririam o meu cotidiano e esse é cheio de pequenos cuidados com tudo aquilo que eu não me responsabilizo em ser meu. Porque a posse é algo absurdamente chato e limitador.


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