19.3.19

Ogum me pediu fogo emprestado

Nos últimos cinco meses meu coração tem pedido atenção. No começo, ele acelerava e cessava a minha respiração. Eu suava e enxergava só pânico, desespero e morte. Duas, três vezes seguidas. Noites acordadas. Peito dolorido. Pernas inquietas. Só voltava aos batimentos normais com medicamentos fortes. Mas o que é normal para o coração mesmo?

Depois a ansiedade foi controlada por ansiolíticos. Estou medicado. Junto veio a sugestão de exercícios físicos para equilibrar o corpo, o coração e cérebro. Ok, vamos lá. Mas antes, um check up. Sempre evitei check ups e exames com medo dos resultados. Será que eu tenho algo? O que fazer se tiver? Daria tempo para viver como eu quero?

Bora lá. Sangue completo, ecos, ergométricos. Bum, bum, bum. Cada vez mais forte, mas agora por outro motivo.

No período durante os exames, o coração demandou atenção novamente. Virou o centro do meu corpo. Ele assim queimava, esfriava, pulsava harmoniosamente. Paixão. Violenta. Quase cega. Me derrubou geral. A única defesa foi a entrega. Estava me sentindo ótimo. Tive que ouvi-lo pela primeira vez por completo em 15 anos. E veio o espírito. E meu corpo reconheceu a paixão. Agora a paixão é por mim mesmo. Valorizo quem eu sou, me enxergo como amigos íntimos me enxergam. Aceitação verdadeira. Amores à primeira vista.

Corpo, mente e espiritualidades sãs. E coração também. Hoje busquei os exames e está tudo bem. "Continue assim", a doutora encorajou.

Me sinto protegido. Por mim mesmo e pelas minhas paixões. E pelo meu coração.

A vida é um caminho, e seres, sendo partes da vida, são eles mesmos vias deste caminho. Se reconhecemos esse fato e o aceitamos, estamos aptos, independente das vias e rotas, a conhecermos a paz e a apreciá-la. Mas para chegar a esse fim, que é apenas um começo (pois ainda não começamos a viver!), nós temos que aprender a doutrina da aceitação, isto é, da rendição incondicional, que é o amor. Próprio e pelos outros.

Descendo a rua, Ogum me parou um instante para pedir fogo, acendeu seu cigarro, me reverenciou, me olhou penetrante e seguiu seu caminho. Segui o meu. Numa nova via.

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