Mesmo morto você continua a me proporcionar experiências novas. Nunca tinha chorado numa pista de dança, nem sentido saudades enquanto dançava. A escuridão alternada rapidamente com luzes brilhantes misturada à uma fumaça cheirosa que embala os corpos presentes, felizes e embriagados. E a música... ah, a música. Aquelas que penetravam nossos corpos e mentes e nos eletrizavam. Ombrinhos. Buzuzu. Memórias. Danças inacabadas. Olhos embaçados. Espelhos reais em banheiros nojentos. E agora nunca mais dançarei com você. Estalam-se os dedos e desaparecemos por completo.
A ignorância da morte é o que nos mantém sãos ao longo de nossas vidas cotidianas? Seria o oposto o que nos levaria à insanidade? Atentar-se aos sinais da brevidade da vida poderia finalmente colocar fim à ansiedade esfomeada da consciência?
Eu só vejo saída para tristeza se houver música, seja ela qual for, aquela vontade de dançar contida no seu corpo, um arrepio que toma conta do seu corpo, conto que isso poderá nos salvar.
Foi estranho voltar a dançar numa sala cheia depois de 3 anos de algo que apelidamos de "distância social". Feliz, triste, feliz de novo. Você fez e faz muita falta, isso é verdade. Mas sozinho não estou. O "apesar de tudo" que realmente conforta e se faz "tudo". Não tenho do que reclamar, fato. Alguém me conduz para fora da escuridão antes de eu recomeçar a dançar sozinho.
Só o empirismo e a necessidade salvam! Adaptação. Sempre.
11.7.22
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