31.3.10

Almoço existencial


Ninguém conseguiu almoçar comigo. Quando se entra no mundo corporativo é muito difícil começar a almoçar com as pessoas que trabalham com você. Se você for tímido, pior ainda. Mas aos poucos a tribo acolhe o novato. E o que acontece quando se almoça sozinho depois de um ano de empresa? No meu caso, almoço existencialista. É basicamente a mesma situação que a "volta pra casa com trânsito existencialista": ônibus parado, você começa a encarar o teto, a janela suja, seus tênis gastos e começa a pensar merda. Mas, porra, que adianta a gente pensar? Almoço existencialista dá indigestão.

E eu lá, enquanto como aquela comida requentada, sozinho, cutucando com o garfo um camarãozinho miúdo começo a pensar na vida. O que eu to fazendo aqui? Almoçando sozinho. Por que? Hora do almoço. E essas pessoas aqui, com outras pessoas, rindo de outras pessoas? Por que eu trabalho? Quando eu chegar do almoço vou direto no meu coordenador e me demitir. Eles vão ficar tão surpresos. Mas tenho que pagar minha viagem. Saco. Deveria sair mesmo assim. Vou morrer mesmo, de que adianta pagar ou não a viagem? Não deveria ter me levantado da cama. Mas ai seria pior. Ter que ficar em casa com aquelas outras pessoas. Nem quero pensar nisso. Por que eu trabalho? "Todo homem é vítima de um meio que se recusa a compreender sua alma". Não, sério. Tem algum fundamento trabalhar? Todo mundo odeia trabalhar. Por que trabalho? Ah, deveria ter pedido um lanche e ter almoçado na frente do computador. Olha só essas pessoas. Elas não sabem de nada. Será que eu chego até o fim do dia? Acha que dá pra conseguir? Acho que já deu uma hora.

Nenhum comentário:

Anteriormente