19.3.10

Ao invés de um ser humano perfeito, a maldade na mente de Frankenstein criou um monstro

Eu não era assim. Cronicamente venho me tornando inquieto e mais ansioso. Tic tac. Prestes a explodir. Implodir. Por muito tempo já reprimi sentimentos, parei ações e controlei situações. Meu inconsciente estava programado para contar até dez automaticamente. Pouca coisa me abalava nada me ofendia ou surpreendia. Era um homem calmo. Eu era assim. Melhor, ainda sou. Mas até quando? Pressões banais e pequenas estão começando a me atingir. A me fazer sentir aquele frio intenso dentro de mim que obriga a escancarar a boca para gritar... Mas nada sai (ainda). Os dedos das mãos tremendo sem parar, como se estivessem assim a vida inteira, lutando contra o fechar de um punho para atingir alguma coisa. Uma força que ainda não foi liberada. As pernas impacientes querendo se movimentar, correr, quando não há lugar para ir. Preso. A mutação fisiológica mais gritante: a respiração. Ofegante, claustrofóbica, desesperada, fechada, presa, rápida, que leva a merda do oxigênio para o cérebro que não te deixa dormir. E sem sono, não consigo sonhar. Como mais fugir da realidade? Sonhar é minha escapatória, minha salvação, meu momento favorito. Estou perdendo a cada dia um pequeno pedaço da minha natureza, da minha alma. Até quando não sobrar mais nada para controlar, nada mais terá importância, e eu não serei mais quem sou. E me tornarei você. Figura do desespero, fonte de uma intolerância que há muito venho controlando. Reprimindo. Sufocando. Tic TAC.
Mas dou crédito a essas consequências de tanto controle. Isso só ilumina e justifica minhas ações passadas, dando-lhes certo sentido e razão, como uma antecipação das mudanças que estariam por vir.

Um comentário:

Guto Pontes disse...

Isso se chama idade... normalmente vamos ficando mais desesperado com o avanço, talvez seja o medo ou até mesmo a ansia da morte.

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