Só o empirismo e a necessidade salvam! Adaptação. Sempre.
4.5.12
Uma adaptação séria II
Descendo a rua sozinho, com medo, armado com uma chave que nem sequer era pontuda. O medo de sua mãe herdado para ele. Preocupado, pensou em desistir e ir para casa, mas tinha acabado de chegar onde estava indo. Entrada deserta, uma porta entreaberta. Viu se não tinha ninguém e abriu. Estavam montando o palco. Ainda faltava uma hora para começar o show e era óbvio que ia atrasar. “Amanhã tenho que levantar cedo”, pensou como motivo para ir embora. Daí pensou que da última vez que isso aconteceu tudo deu certo e preferiu atravessar a rua para esperar a fila se formar. Odiava esperar. Odiava filas. Estava sempre adiantado. Pelo menos em seus pensamentos. Quase calculados. Entrou na Fogazzeria e perguntou se eles estavam fechando. Idiota. Nada estava para fechar no baixo Augusta. Tudo começa à noite. Ele sabia disso. Disseram que estavam abrindo. Pediu uma cerveja long neck e escolheu um lugar afastado de um trio de homens que chegaram junto com ele e sentou-se. Enviou uma mensagem para sua mãe, tranquilizando-a dizendo que estava esperando o show começar. Tomou a cerveja devagar pensando em nada e depois em na lan house ao lado para matar o tempo. Decidiu aproveita esse momento sozinho. A cerveja terminou, levantou, pediu outra long neck e uma caneta que pudesse usar. Confirmou se podia mesmo usar a caneta, mesmo ainda em dúvida se ia usa-la ou não. Pegou seu caderno da mochila, abriu nas últimas páginas e clicou a caneta para a ponta aparecer. Desenhou um rosto sombreado e depois desenhou o que achava que sabia desenhar: sua própria caricatura. Desenhou ele mesmo com a boca aberta para variar um pouco e caprichou no volume dos cabelos encaracolados e maltratados pelo dia. Começou a escrever sobre sua descida pela Augusta e de como tinha medo de ser assaltado. Riu. Deu uns goles na segunda cerveja e ao escrever “cerveja” novamente colocou o jota antes do vê. Sinal que estava, sei lá... Disléxico, talvez? Pensou em responder que estava escrevendo sobre ele, caso o mendigo entrasse e perguntasse sobre o que estava escrevendo. Pensou em devolver a caneta, escreveu esta última linha e depois colocou o lugar e a data de hoje. Gostava de registrar as coisas, dando um certo firmamento aos momentos.
São Paulo, 03 de maio de 2012
Fechou o caderno e abriu novamente. Escreveu que quando parou de escrever, levantou a cabeça rápido e sentiu-se um pouco zonzo. Click.
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