22.11.13

Quando o sol entra no seu signo

Esta é a primavera mais estranha que já vivi. Hoje o céu está cinzento e uma chuva fraca vinda de nuvens esparsas enfeitam o dia. O tempo, antes rápido demais, agora passa lentamente nessa ansiedade que é te esperar. Prova da ilusão temporal que se vive todo dia. O calor vem brigando com o frio e nenhum dos dois conseguem sobreviver mais de dois dias. Porém, quem perde são as flores que acordam geladas e molhadas e morrem secas e esfareladas no chão de asfalto numa rotina diária e sem fim aparente. E nascem e morrem sozinhas. São flores individuais. Não mais fazem parte de um arranjo natural. O vento não se movimenta para mudar os ares. Resolveu ficar parado em todos os lugares. É apenas ar. As folhas marrons sem contraste são tapetes para um jardim triste de gramas miseráveis. A impressão que fica é que o verde não acredita mais em si mesmo. A cidade está mais cinza do que nunca e os prédios nem sombra mais querem fazer em dias que a luz do sol rasga as nuvens gigantes que cobrem a cidade. Durante a noite, mais escura e abafada do que nunca, as estrelas não querem competir com as luzes teimosas e irritantes que cintilam do asfalto, postes, trânsito e prédios. A lua, com a mesma força do sol, surge diariamente para figurar na escuridão absoluta. Num lugar privilegiado, sozinha. Por isso quando olho para cima vejo um sorriso triste sem olhos. Um rasgo branco amarelado sem brilho num tecido negro. Invisíveis, as nuvens negras fazem sua ronda até a noite clarear. Mas tudo isso já são memórias... já que amanhã começa outra lembrança.

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