20.3.14

De volta à caverna

Eu sou meu próprio antepassado. Eu sou meu próprio ancestral. Nas paredes pouco iluminadas revejo desenhos primitivos que eu mesmo fiz há milhões de anos atrás. Identifico minha própria caligrafia garranchosa. Releio as frases que deixei para trás. Nada mudou. Poderia ter escrito essas profecias hoje pela manhã que elas iriam se concretizar numa próxima leitura. Da forma que eu não mudo, profetizo dias presentes. Posso prever o meu futuro se acaso eu não mudar. E é o que vem acontecendo: escrevo sobre hoje para ler no hoje de amanhã.

8.3.14

Quaresma II

Hoje fiz uma fotografia interessante e pensei que a partir dela poderia se iniciar uma nova série. Daí me perguntei por que eu crio séries? Para dar continuidade às coisas que crio? No caso da “Underground Stars” e “São Paulo Anônima” foi algo espontâneo, um conjunto de fotografias com um mesmo tema que precisavam ou não de um título. Como os temas foram se repetindo, surgiu uma série. Mas voltando a minha infância, eu sempre criei séries. Eu tinha um grupo de super-heróis, uma história em quadrinhos que comecei em 1999 e desenhei até 2005. E teve um encerramento... Crio séries para ter o controle de encerra-las? Acho que faz sentido. Até quando eu parei de brincar com bonequinhos de heróis, eu dei um final digno de cinema! Algo como se a última brincadeira teria que ser espetacular e memorável...

Hoje tenho outros tipos de séries. Tenho meus “shuffles”, uma série de mixtapes, trilhas sonoras de filmes que só existiram na minha mente. Tenho também as séries de fotografias de desconhecidos que sempre chamam minha atençãoo pelo olhar. E tenho a série da minha vida. Tenho o controle dela e posso encerrar a qualquer momento.

Não acredito que a vida seja sagrada. Acredito que foi tudo um grande acidente. Mas o mistério mais incrível de todos é a consciência, o pensamento! É muito errado – a palavra não é “errado” – não sei! Acredito que pensar deixou tudo pior. A consciência é horrível.

Mas estes são só pensamentos sem fim para se perderem na minha caverna escura. Assim como eu.

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