Anteriormente em Season Finale...
No ano retrasado me desencontrei. No ano passado fiquei comigo. E neste ano...
E no espelho encontrei algo que não esperava encontrar... Encontrei eu mesmo. Assustado, estarrecido, cansado. Não conseguia desviar do meu próprio olhar. Posso me ouvir preso atrás do espelho. Um doppelganger respirando pesadamente em fúria. Se fizer silêncio consegue ouvir o monstro respirar.
No começo fui levado ao encanto do olhar monstruoso. Queria ir de encontro a ele e deixar ser dominado. Tive noites extremas num mar de bebidas. Noites acordadas entre bares – tentar esquecer a pressão dos dias. Mas o monstro não queria dominar. Ele queria coexistir. Ele quer. Por que tudo é tão nebuloso?
Reinamos juntos neste ano. Como um Rei de Copas: emocionalmente endurecido, dores privadas, emocionalmente indisponível, perdido no amor (dos outros e no próprio), emocionalmente arrogante, excessivamente emocional.
Este Rei pode ter seus sentimentos tão difíceis que ele os esconde. Até dele mesmo. Melódico, é um antagonista. Uma paranoia sussurrando para mim; uma voz atrás da minha cabeça me dizendo que as coisas não vão funcionar, fazendo decisões dolorosas e egoístas. E eu somente encarava do outro lado do espelho. Sou o diretor observando o ensaio.
E a Roda da Fortuna e seus pentáculos nos lembra que mudanças são inevitáveis. Não importa como as coisas são agora, elas não vão ficar assim para sempre. Mais do que nunca, preciso me adaptar.
Não temos sempre o controle sobre o que a vida coloca no nosso caminho, mas podemos decidir como nós respondemos a isso. Precisamos ser flexíveis e adaptarmos, irmos com a correnteza. Seja ela o acaso ou o destino.
Como um malabarista, na vida precisamos as vezes manter mais de uma bola no ar. Nada parece certo e ficamos incapazes de imaginar melhores possibilidades para nosso futuro. A vida é muito estranha...
E cansamos de tudo e nos deitamos neste campo vazio para não fazer nada e esperar quando tudo for maravilhoso – festejar numa parada – uma bela desculpa para celebrar a bagunça que fizemos.
E eu posso sentir a diferença quando o dia começa, “este vai ser o ano em que venceremos” e começamos novamente, antes das lembranças das bagunças que fizemos.
Memórias se apagam e histórias podem mudar, mas são reais se vistas em fotografias. Vendo somente o que eu sinto. E parando o tempo das pessoas que não conheço. Deixando elas em preto e branco. Tristes, felizes, cansadas, sonhadoras, alegres. Se tivesse um som seria a batida de uma bateria. Meu coração é uma bateria, marcando o tempo com todo mundo.
Descobri que os desejos são fantasmas do passado. Desejos que precisam de muito para sobreviverem. Mas os meus morreram. E outros vão nascer.
Nascer nesta que é a minha arte de cair constantemente. E levantar (ou tentar pelo menos). E ficar quieto. E observar. Bom dia, boa tarde e boa noite do meu lado mais analógico (monstruoso). As coisas menos importantes são mais fáceis de serem ditas. Fácil como veio, fácil como foi. Ocasionando entre o orgânico e o mecânico, entre o ligado e o desligado, entre os parasitas e os acolhedores, ocasionando entre os rostos que nos importamos, entre danças inacabadas. E se elas não tem fim, torcemos para que tudo isso termine logo, pois pensar em algo diferente que eu não sei o que é, é cansativo. Se você acha que está indo bem, como pode ter tanta certeza? Não é difícil, apenas frágil. Em sua própria maneira estranha. Nunca sei da minha própria força - apenas carregado pelas pessoas ao meu redor. Não sei de onde vem, só sei que por um minuto me perdi. Misturo texturas, batidas, passado, presente e deixo o futuro incerto.
Sou banhado por uma luz azul. Uma penumbra índigo em cima de um palco. E os espectadores querem ouvir apenas uma única palavra. As vezes tudo que precisamos falar pode ser dito com apenas uma palavra. Ou as vezes precisamos de muita música. Retrogrado, lágrima, esquecer? Pontes, café, tremor, lembrança, prelúdio? E amanha você pode cantar no paraíso. Numa primavera sem flores, num outono sem folhas, num inverno sem chuvas, num verão sem o sol. E são adaptações. Fico surpreso em como o fogo transforma a nicotina em fumaça para que seja preenchida nos meus pulmões o que depois vai virar um câncer. E no final, não importa se você se queimar ou desaparecer. O importante é se transformar em algo. E eu preciso me transformar em algo que eu preciso.
Mas tudo está oculto nas razões. Mesmo se permanecer em silêncio é preciso ouvir a última chamada, mesmo que seja um grito ou um sussurro. Eu mesmo vou dizer, mesmo com medo de que tudo já tenha sido feito ou dito. Pois tudo que é externo não é nada mais do que um reflexo projetado pela máquina mental.
Só preciso do vento para soprar, do fogo para queimar, da água para lavar e da terra para assentar; com isso posso desaparecer por completo. Me sinto preparado.
Continua...
Só o empirismo e a necessidade salvam! Adaptação. Sempre.
31.12.14
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Anteriormente
-
►
2004
(60)
- ► março 2004 (4)
- ► abril 2004 (8)
- ► junho 2004 (5)
- ► julho 2004 (4)
- ► agosto 2004 (5)
- ► setembro 2004 (4)
- ► outubro 2004 (4)
- ► novembro 2004 (10)
- ► dezembro 2004 (9)
-
►
2005
(50)
- ► janeiro 2005 (3)
- ► fevereiro 2005 (8)
- ► março 2005 (4)
- ► abril 2005 (5)
- ► junho 2005 (4)
- ► julho 2005 (3)
- ► agosto 2005 (4)
- ► setembro 2005 (3)
- ► outubro 2005 (3)
- ► novembro 2005 (2)
- ► dezembro 2005 (5)
-
►
2006
(40)
- ► janeiro 2006 (3)
- ► fevereiro 2006 (3)
- ► março 2006 (5)
- ► abril 2006 (2)
- ► junho 2006 (3)
- ► julho 2006 (3)
- ► agosto 2006 (4)
- ► setembro 2006 (5)
- ► outubro 2006 (2)
- ► novembro 2006 (4)
- ► dezembro 2006 (2)
-
►
2007
(45)
- ► janeiro 2007 (4)
- ► fevereiro 2007 (6)
- ► março 2007 (2)
- ► abril 2007 (4)
- ► junho 2007 (3)
- ► julho 2007 (4)
- ► agosto 2007 (6)
- ► setembro 2007 (3)
- ► outubro 2007 (1)
- ► novembro 2007 (3)
- ► dezembro 2007 (2)
-
►
2008
(36)
- ► janeiro 2008 (3)
- ► fevereiro 2008 (3)
- ► março 2008 (7)
- ► abril 2008 (4)
- ► junho 2008 (3)
- ► julho 2008 (3)
- ► agosto 2008 (2)
- ► setembro 2008 (2)
- ► novembro 2008 (2)
- ► dezembro 2008 (3)
-
►
2009
(31)
- ► janeiro 2009 (6)
- ► fevereiro 2009 (8)
- ► março 2009 (2)
- ► abril 2009 (3)
- ► junho 2009 (1)
- ► julho 2009 (1)
- ► agosto 2009 (2)
- ► setembro 2009 (1)
- ► novembro 2009 (4)
- ► dezembro 2009 (2)
-
►
2010
(12)
- ► janeiro 2010 (1)
- ► fevereiro 2010 (2)
- ► março 2010 (3)
- ► abril 2010 (1)
- ► junho 2010 (1)
- ► julho 2010 (2)
- ► novembro 2010 (1)
- ► dezembro 2010 (1)
-
►
2011
(13)
- ► janeiro 2011 (1)
- ► fevereiro 2011 (3)
- ► março 2011 (2)
- ► junho 2011 (1)
- ► julho 2011 (1)
- ► novembro 2011 (1)
- ► dezembro 2011 (2)
-
►
2012
(23)
- ► janeiro 2012 (2)
- ► fevereiro 2012 (2)
- ► março 2012 (2)
- ► junho 2012 (2)
- ► julho 2012 (1)
- ► agosto 2012 (3)
- ► setembro 2012 (3)
- ► outubro 2012 (1)
- ► novembro 2012 (2)
- ► dezembro 2012 (2)
-
►
2013
(24)
- ► janeiro 2013 (1)
- ► março 2013 (5)
- ► abril 2013 (4)
- ► junho 2013 (4)
- ► agosto 2013 (1)
- ► setembro 2013 (1)
- ► novembro 2013 (6)
- ► dezembro 2013 (2)
-
▼
2014
(12)
- ► janeiro 2014 (2)
- ► fevereiro 2014 (2)
- ► março 2014 (2)
- ► abril 2014 (1)
- ► junho 2014 (3)
- ► julho 2014 (1)
-
►
2015
(3)
- ► janeiro 2015 (1)
- ► dezembro 2015 (1)
-
►
2016
(5)
- ► janeiro 2016 (1)
- ► setembro 2016 (2)
- ► dezembro 2016 (1)
-
►
2017
(3)
- ► julho 2017 (1)
- ► agosto 2017 (1)
- ► dezembro 2017 (1)
-
►
2018
(3)
- ► fevereiro 2018 (1)
- ► outubro 2018 (1)
- ► dezembro 2018 (1)
-
►
2019
(12)
- ► março 2019 (3)
- ► abril 2019 (1)
- ► junho 2019 (2)
- ► agosto 2019 (1)
- ► dezembro 2019 (2)
-
►
2020
(1)
- ► dezembro 2020 (1)
-
►
2021
(1)
- ► setembro 2021 (1)
-
►
2022
(1)
- ► julho 2022 (1)
-
►
2023
(2)
- ► junho 2023 (1)
- ► agosto 2023 (1)
-
►
2024
(1)
- ► fevereiro 2024 (1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário