5.9.16

Não é o que você diz, mas como diz

De que me serve fugir se não posso viver com um nome pesado demais ou terrivelmente leve; se não posso deixar de sentir um peso em meu peito e um vazio em minha alma; se sou incapaz de cruzar a rua e gritar que estou vivo; se, por mais que eu me esforce, sempre desejarei ser outra pessoa com qualquer outra vida.
Como gritar no ouvido do mundo que estou apaixonado pelo nada?

Branca de Neve corria nua por uma floresta repleta de paradoxos. Alice se submergia em um mar de lágrimas e fantasias. Dorothy caminhava no vermelho sobre os caminhos amarelos da cidade Esmeralda. A virilidade do belo Príncipe encarcerou o monstro esguio.

Como sussurrar ao mundo que as crianças já não são mais crianças; que não queremos coroas, espadas, um cavalo branco, uma fada madrinha e nem um duelo mortal? Muito menos queremos uma passagem de ida ao país dos sonhos, onde as maravilhas não contêm um apartamento com varanda, carro zero e nem violência de gênero. E ainda pareça que não te quero, a realidade não poderia ser mais distante. Quero que acaricie meu céu e consuma meu inferno. Quero te declarar a guerra porque quero conquistar os teus latidos, ainda que esta noite o mar tenha hasteado uma bandeira de perigo. Mas quero que quando os cadáveres, silenciosos e sonolentos, que jazem sobre os restos de uma banheira de hidromassagem, não me peçam para que eu mude, não exigem que eu seja sincero. Me chame, se assim me deseja, me chame de serpente, porque sei que cabeças vão rolar, porque sei o que sente. Como te mostrar que não é o que você diz, mas como diz? Não consigo saber como te contar que os nomes carregam histórias e que as lendas nos nutrem de sonhos. Que as princesas já não querem cavalheiros porque eles preferem se matar com dos dragões.; que os meninas encontraram seus rostos ocultos caminhando sozinhas pela floresta e que já não mais temem o lobo, porque quero saber que já mais coisas além do labirinto, do País das Maravilhas, porque queremos ser a Rainha de Copas.

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