Outro dia estava eu a embarcar num sono pesado, pesado e longo. Finalmente apaguei. Apaguei. E acordei com os olhos fechados sentindo o odor de mata fechada. Não havia som, só a paralisia. Foi quando percebi que da minha boca aberta saía uma fumaça infinita. A boca não se fechava, a fumaça só aumentava. Não estava desesperado. Estava apenas esperando, esperando que terminasse, esperando que me levassem, esperando que me buscassem, esperando que algo acontecesse. Nada aconteceu. A fumaça continuava a sair e saía, e saía e saía e saía e subia e subia no espaço infinito. Não ia pro céu, não ia pra terra, não ia pro mar, arrumava espaço em seu próprio espaço. Tudo que me cercava era fechado. A fumaça tomava conta do lugar. O incêndio é dentro de mim. Eu pensei: não, não sinto calor, não sinto frio, não sinto nada. Vinha fortemente de dentro de mim a fumaça que esfumava minha vista e me deixava a ver nada e ter nenhuma ação. Eu fechei os olhos novamente buscando acordar do sonho que não era sonho e também não era realidade. Nada e nada vinha e eu já acostumado com aquela situação já não, já não esperava nada e nada e do nada veio e começou a ventar e começou a chover e a fumaça chovia. Eu fiz a chuva. Começou a alagar. Eu flutuava na piscina que se criou e não sabia como boiava, apenas era isso. Fui subindo até onde a fumaça estacionou e não encontrei nada. Era tudo branco e vazio e eu ali boiando, literalmente, tentei fechar os olhos novamente para acordar, mas eu não estava dormindo. Eu nunca imaginei viver a realidade pessoalmente, mas ali ela estava na minha frente como os monções na Índia. Como um convite para desaparecer por completo. Como um réquiem quando falam sobre o amor.
Só o empirismo e a necessidade salvam! Adaptação. Sempre.
8.5.19
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