31.12.19

Season Finale XIII

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Quantas estrelas se apagaram nos últimos 10 anos? Quantas estrelas se apagaram desde que olhei o céu pela última vez?

Há 10 anos entrei numa caverna. Convivi com monstros e fantasmas só para depois de muito tempo perceber que eram reflexos infinitos de uma solidão que não parecia ter fim. Pois então, estava sozinho nesta caverna. E a cada temporada que passava, mais eu me aprofundava no labirinto que eu mesmo criei. Nem lembrava mais da existência das estrelas. Apenas fitava o teto rochoso e escuro que me observava também.

E nos últimos 2 anos perdi um pedaço da vida. Não da minha própria, mas de alguém que sempre esteve do lado de fora. E foi preciso essa perda para eu perceber que eu realmente tinha perdido muito mais que um pedaço. Finalmente estava desaparecendo por completo.

E comecei a derreter. Gota a gota a caverna foi se completando. Soterrado em mim mesmo, sem fôlego e sem forças, fechei meus olhos e quando abri já não estava mais na caverna. A saída sem saída não se revelou com luz ou mensagens para seguir adiante. Eu agora estava num quarto escuro. No breu, tateando por um caminho desconhecido sem saber o que era chão, degrau, parede, eu avançava sem parar. Guiado apenas pelas batidas do meu coração.

Queria experimentar e conhecer.

E conheci. Conheci você, que me quis como eu sou. Mas sou incrédulo e sonhador. Depois te desconheci. Na esperança, o gostar reduz. Na frustração, o gostar acaba. E você se foi. E a saída da caverna é lenta. Nada ainda.

Eu sou o meu outro. Sou meu reflexo. Existo a partir das minhas experiências. Parece que existe algo que pode se desdobrar em minha mente. Que ainda pode me marcar. Mais profundamente. Basta existir para ser completo.

E finalmente a saída. E o lado de fora era algo que eu só ouvia pela boca dos outros e não acreditava. Eu era o lado de fora. Saí em mim mesmo. Um dentro do outro, do lado de fora. As possibilidades são infinitas e finalmente vivo o meu empirismo, meu hedonismo e minha adaptação. Um lobo selvagem avançou para cima de mim, se transformou em energia azul e entrou no meu peito. A forma como me enxergo é o jeito como também olho pro mundo.

Um vento fraco se transforma em ventania e assume a forma de uma tempestade à luz fraca e quieta durante um milagre perfeito. A minha realidade com um sabor que parece mel. E ao mesmo tempo que dura um nada eterno, eu sinto os toques, os cheiros, os sabores, os sentidos de uma dança rápida e lenta de alguém que conhecia e dos alguéns que vou conhecer. Se da primeira vez eu senti demais, da segunda, espero sentir o dobro. Sentir como eu sou. Um grande delírio sem a necessidade de febre, uma dança sem coreografia e sem protocolos.

Enquanto o mundo pega fogo lá fora, eu por dentro sou o coro dos pássaros ao amanhecer deslumbrado com a quantidade de estrelas que ainda existem e maravilhado pela luz das que se foram.

Continua...

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