29.3.08

Morte e Vida Sertralina Anador V

Diário do Tédio

O que faz você entrar numa sala de bate-papo de encontros num sábado a noite e se deparar
com o vergonhoso - e dolorosamente irônico - TENHO ESPERANÇA SP ?
O tédio.
Grana pra sair ? Amigos efusivos ? Família facilitadora ? Não tenho.
O que me resta ?
Web e maratona Bergman.

Onde dormir não adianta, eu moro; onde ouvir música sentado não dá em nada, eu vivo; onde beber escondido não consigo, me deprime; onde 60 gotas de anador não é suficiente, eu supero;
onde o tédio reina, eu respiro; onde esperar o inédito me cansa, onde pensar nessa ladainha eu me engano.



com licença.

18.3.08

Big Bang

Poderíamos ficar juntos num outro mundo, numa outra dimensão?
Não só nós dois, mas todos nós.
Quando encosto em alguém, meu corpo parece querer se expandir de extase.Como o começo do universo.Toda a energia acumulada há milhões de anos que numa reação química se transforma para nos consumir, nos levando para o começo onde também tudo termina.Tudo vem a tona, nos trazendo de volta, onde tudo começa e termina.E vai repetindo, sem parar.Até os corpos se separarem e vagarem celestes por aí, até se encontrarem de novo, com novos corpos.
Essa é a sintaxe da solidão terminada e recomeçada.E como era antes?Nada. (se me tocar ficarei aliviado)
Imagino um preto silencioso sem dimensões, profundidades, algo que remeta a eternidade.Inconsciência total.Será assim a morte?Aposto que sim.Se a morte
é a solidão, então já me encontro morto.
Mas eu espero continuamente, como um fantasma, uma lembrança, aguardando que você me ofereça escapatória.
Vou morrer sem ter tido tempo de ser seu e não me conformo com isso.Seu coração (e alma) me ajuda a viver mas ele não está do meu lado.
Você é a carne, eu o vapor sem consolação.
Vazio contínuo até a sua morte, quando poderemos nos tocar e juntos criaremos sóis e poeira estelar.

[Enquanto nessa dimensão, nesse mundo (o hoje e sempre) ficaremos separados (eu, sempre esperando)]

13.3.08

Morte e Vida Sertralina IV

Juntando alguns momentos recentes hoje percebi que estou em depressão.
Abrindo uma terceira conta num banco, quase explodi de indignação, horror pelas pequenas crueldades que me cercam.Podem ser apenas sinapses errantes, mas me sinto paralizado, inerte ao mundo, às pessoas em minha volta.Como sempre fico na defensiva me reservando atrás de um humor ácido e negro, fazendo até algumas pessoas rirem.Rir no trabalho e chorar na terapia.Quero muito gritar, mas para todo lugar que vou, sempre tem álguem para me ouvir.Meu orgulho me sufoca por não pedir ajuda.A única coisa que parece me segurar é o meu trabalho.Felizmente, amo o que faço.Mas eu nunca tenho satisfação.Sempre espero algo novo e maior, algo que traga boas mudanças e me faça esquecer essas lamentações - paixões para me divertir.É incrível como ninguém tem idéia do que se passa na nossa cabeça.Ninguém sabe o que realmente precisamos, o que queremos, de que forma queremos que aconteça.Somos todos subjetivos e mesquinhos.Ninguém vai nos ajudar.Me sinto claustrofóbico, meus olhos ardem de sono junto com as lágrimas secas derramadas a pouco, como se resumisse minha tristeza num suco.Um suco salgado.

It's a blue, bright blue Saturday, hey hey
And the pain has started to slip away, hey
I'm in a backless dress on a pastel ward that's shining
Think I want you still
But it may be pills at work
Do you really wanna know how I was dancing on the floor?
I was trying to phone you when I'm crawling out the door
And there's a tune at things you say that you don't do
Why don't you ring?
I was feeling lonely, feeling blue
Feeling like I needed you
Like I've woken up surrounded by me
A&E

Goldfrapp - A&E

12.3.08

Morte e Vida Sertralina III

Não desce.
Simplesmente não desce.
Não vou tentar entender nada, muito menos um porque desse comentário.
Só uma palavra: desnecessário.
Eu, começo de ressaca, não dormi, não fazia nem 4 horas que tinha saído de uma festa (tudo isso problema meu, foram minhas escolhas, minha responsabilidade).
Ela e minha amiga estavam planejando uma viagem para o Rio, e minha amiga deu a idéia de eu ir com elas.
Ela: - Só se for com você.
As pessoas não tem noção de quanto elas machucam os outros, principalmente se você gostar dessa pessoa, porque aí a dor é maior.
E justo ela tão inteligente, decepção.
Não precisava disso, não mesmo.
Pode parecer pequeno, mas o pequeno faz diferença se você sente algo maior que afeto pela pessoa que te despreza.
"Não há nada pior que a sucessão de dias felizes" - isso a cada dia que passa me faz mais sentido.Tatuaria essa frase fácilmente.
Depois desse comentário, me senti como uma doença, algo que ninguém gostaria de ter por perto.
Não desce mesmo tamanha grosseria sem motivo.
A percepção dela que está acabando lentamente comigo depois de me dar carinho, atenção, não existe.
A compreensão de sentimentos também é inexistente.
E isso é triste, pois a cada dia que passa, além de enfrentar a sucessão de dias felizes, acabo por perder mais e mais a admiração dos outros.
Percebo que estou rodeado de pessoas medíocres e que tenho que me afastar mais e mais, sempre destinado a solidão.
Cada dia que passa fico mais parecido com uma ilha - alguns tentando chegar, por causa de um naufrágio, outros tentando sair desesperadamente pois elas mesmo me tornaram vazio.
O que não existe, pois não há nada para ser esvaziado.

Once I wanted to be the greatest
No wind or waterfall could STALL me
And then came the rush of the flood
The stars at night turned DEEP to dust

Melt me down
into big black armour
Leave no trace
Of grace
Just in your honor
Lower me down
TO CULPRIT SOUTH
Make 'EM WASH A SPACE IN TOWN
FOR THE LEAD
AND THE DREGS OF MY BED
I'VE BEEN SLEEPING
Lower me down
PIN ME IN
Secure the grounds
For the later parade

Once I wanted to be the greatest
TWO FISTS OF SOLID ROCK
WITH BRAINS THAT COULD EXPLAIN
Any feeling
Lower me down
PIN ME IN
Secure the grounds
FOR THE LEAD
AND THE DREGS OF MY BED
I'VE BEEN SLEEPING
For the later parade

Once I wanted to be the greatest
No wind or water fall could STALL me
And then came the rush of the flood
The stars at night turned DEEP to dust

Cat Power - The Greatest


7.3.08

Bob Dylan Tour '08 - São Paulo 06/03/08

Muitos criticaram sua apresentação de ontem (na qual não estive presente).
Pobre coitados.
Gastaram uma nota para ver um senhor de 66 anos com uma voz rouca e decrépita cantando músicas cujas letras, mesmo em inglês, são irreconhecíveis.
Mas não estou aqui para criticar essa classe média alta média óbvia, muito menos criticar a apresentação de Bob Dylan realizada agora há pouco no Via Funchal.

Pontual, Dylan abriu o show com Rainy Day Women 12th & 35 , passando depois para a também clássica Lay, Lady Lay.Mudando quase que por completo os arranjos originais de suas canções mais conhecidas (algumas só reconhecidas através do refrão), Dylan se apresentou intimista, sem papo algum com a platéia (se despediu cordialmente no final), com aquela mesma voz rouca que muitos criticaram.

Aí é que está.
Como no filme "I'm Not There", Bob Dylan não estava lá.
Vou até mais além: ele nunca existiu por inteiro.
Sempre foi repaginado através dos 50 anos compondo músicas que vão desde canções de protestos, rock, passando por baladas românticas cafonas e por último e não menos especial, canções nostálgicas (que fazem parte do irônico Modern Times de 2006), puro blues que deu origem a paixão musical que Robert Allen Zimmerman tem!

Seus primeiros ídolos (Odetta, Woody Guthrie...) foram cantores excepcionais de blues (Elvis ainda não tinha inventado o rock, no qual mais tarde Dylan daria um cérebro - ponto final da contracultura), que tinham vozes marcantes, ora pelos quase latidos de Odetta, ora pela voz nasal e confusa de Guthrie, por exemplo.

Incrível foi ver as raízes do Dylan da década de 60 na voz de um Dylan de 2008.
O cantor fez um show de duas horas, com um bis no final cantando Thunder On The Mountain e a bela Blowin' In The Wind.

Set List

1. Rainy Day Women 12th & 35
2. Lay Lady Lay
3. I'll be Your Baby Tonight
4. Lovesick
5. The Levee's Gonna Break
6. Spirit On The Water
7. A Hard Rain's Gonna Fall
8. Rollin' and Tumblin'
9. Workingman's Blues #2
10. Highway 61 Revisited
11. When The Deal Goes Down
12. Tangled Up In Blue
13. Ain't Talkin'
14. Summer Days
15. Like A Rolling Stone

(bis)
16. Thunder On The Mountain
17. Blowin' In The Wind



Para entender mais, No Direction Home.

3.3.08

Morte e Vida Sertralina II

A pior coisa é o desconforto. Eu sempre me sinto desconfortável.Pela forma que eu sinto, sento, ou como estou de pé, como estou vestido, onde estou,com quem estou.Sempre insatisfeito,esperando algo inédito que nunca vêem.Me canso.Quando me sinto confortável ? Quando estou deitado, minutos antes de dormir, deitado de costas e encarando o escuro, num ensaio para o caixão - ou naquele minuto seguinte o esporro.Como se sentir mais confortável ? Mais relaxado ? Ou seria mais feliz ?A felicidade é química e tem curta duração.O relaxamento e conseguido através do conforto.Conforto eterno, só estando morto.Mas qual é a graça de estar morto e relaxar e não estar vivo e sentindo todo esse conforto? Poxa, estou vivo agora.E não quero me sentir confortável só quando estou dormindo.Quero conforto ao meu redor.Dinheiro.Dinheiro é uma resposta.Dinheiro traz felicidade sim.Mesmo que química.
...
Sabia que ia me machucar.
...


"... Ela sorriu e desceu com passinhos miúdos e a mão na saia, com aquela lentidão linda e majestosa de mulher, como uma ninféia chinesa.
"Não somos nada."
"Podemos morrer amanhã"
"Não somos nada."
"Você e eu."
Eu acompanho-a educadamente com a lanterna até a rua, onde chamo um táxi branco para levá-la para casa.
Desde tempos imemoriais e adentrando o futuro sem fim, os homens amaram mulheres sem dizer a elas, e o senhor os amou sem dizer, e o vazio não é o vazio porque não há nada para ser esvaziado.
Estás aí, Senhor estrela? - Suave é o chuviscar que perturbou minha calma."

Trecho de Tristessa, de Jack Kerouac


foto por juliantina

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