31.12.11

Season Finale V

Anteriormente em Season Finale...

Shuffles of Life



Sobre o tempo e conviver com si mesmo (uma parte)


Finalmente fiquei sozinho. Porta fechada, silêncio, luz fraca ou escuridão completa. Finalmente estou sozinho.

Mais confusa que é a ideia de ter duas personas, é ainda mais confusa a adaptação em uma só.

Como o tempo não existe, eu podia imaginá-lo como bem quisesse. E aparentemente eu tinha dois tempos e dois espaços: um com amigos, colegas de trabalho e fora de casa e outro com minha família, dentro de casa.

Comecei a perceber que um dos tempos ou espaços ou lados ou personas estava sumindo. Mas isso era falso. Inconscientemente eu estava me adaptando numa só pessoa (finalmente?). "Finalmente" estava ficando sozinho. Comigo mesmo. O que eu poderia ver se acaso eu me afastasse de mim mesmo?

O signo para isso tudo foi o fato de eu ter voltado para o meu próprio quarto, um refúgio do mundo de fora, mas não do mundo de dentro. Meu próprio castelo. Com os pensamentos solitários, os momentos egoístas (só meus), as crises infinitas, costumeiras e melancólicas, sem completo entendimento (e não dá para explicar o que não quer ser explicado).

E esse foi o começo da minha metamorfose. E o relógio começa a andar mais rápido. E o tempo vem surgindo para quem não acreditava nele. E você se flagra chorando lendo cartas antigas. E você está atrasado.

Então o alarme toca e acordar cedo é uma tortura. Um suspiro pesado e um peso nas costas lodo de manhã. O processo da rotina é tenebroso! Trabalhar até o dia acabar e depois ir para a cama exausto. Dias longos e noites curtas. Sorrir e acenar, fingir que tudo está bem. Idiota o bastante para quase ser alguém. Acabei por odiar o que é preciso nesse mundo, essa imitação de vida.

A rotina passou atropelando e levou minha criatividade para bem longe. Ainda não a recuperei. Não distingo mais o paraíso do inferno, o azul do verde ou o conforto da mudança.

Tive que tomar decisões importantes e decisivas que implicaram em mudanças significativas. Acabei por odiar as grandes decisões que só me causam revisões e questionamentos sem fim.

Como na entrada de um metrô lotado, onde você é empurrado por forças maiores para dentro de um vagão de trem sem destino certo. E você não tem certeza se queria estar ali, mas acabou lá dentro. Feliz, triste, feliz de novo.

Exatamente, vivências solitárias, indivisíveis e curtas, sempre me lembrando para não esquecer de respirar mesmo dentro de um lugar abafado, cheio de gente, rostos infelizes, vidas passageiras e doentes, buscando uma saída para o lado de fora, com a esperança de que tudo termine logo e você encontre seus amigos queridos dançando em alguma floresta mágica e deserta.

Eles me obrigaram a fazer isso a partir das minhas próprias escolhas estranhas. "Vamos!", eles gritaram com olhares que esperavam respostas.

E você estava ali, pronto para tentar algo novo, pronto para emergir e brilhar, mais alto que o próprio sol, num momento de catarse falso, um outro sonho da meia noite. Um doce nada, enquanto você esperava, dançando no escuro com você mesmo, perguntando bem baixinho para onde você foi sem a sua própria companhia e se era isso mesmo que você queria…

Uma voz suave confirmava e dizia que o paraíso é um lugar onde nada acontece para mim, você e todos nós e que você deveria se apegar nas coisas que vão fazer você se sentir melhor. Você vai perceber o que é, vai perceber o momento perfeito e numa mudança constante, vai ter que se arriscar porque é o acaso quem manda.

O acaso pode trazer o trem mais adequado para você numa plataforma de confiança. Espere nos trilhos. Nem mesmo espere. Ele irá oferecer-se a você eventualmente, não pode fazer outra coisa. Este vazio é normal. Pegue numa mão imaginária e entre novamente com você mesmo, com seus pensamentos solitários, sem silêncio na sua cabeça, no seu castelo, a espera de outra metamorfose.

Assim falou o acaso.

Continua...

"Tenho uma boa intenção – qual, porém, é a intenção dos outros? Veremos em breve. Estar preparado, pronto, para suportar tudo o que a vida traz é uma tarefa evidente. Importante é avaliar, transformar o significado da experiência. Não sucumbir ao que foi deliberado."

Egon Schiele (1890 - 1918)

"E toda a verdade que não traga ao menos um riso nos pareça verdade falsa. E que todo o dia em que se não haja dançado, pelo menos uma vez, seja para nós perdido." Das Antigas e Das Novas Tábuas, Assim falou Zaratustra, por Friedrich Nietzsche

5.12.11

Stand the Train


Deito minha cabeça e fito a escuridão com meus olhos fechados. Não há sinal. Não há nenhum som pesado. Exceto pela minha respiração levemente ofegante, que prefiro imaginar que seja o barulho do vento, das nuvens passeando acima de mim. A única coisa ocupa minha mente são pequenos pensamentos se multiplicando e suavemente se esvaindo pela escuridão vazia. Como o movimento circulares de ondinhas que vão desaparecendo devagar. Como batidas de coração que vão ficando cada vez mais fracas. Nao estou ansioso pela espera. O frio do ferro na minha nuca não me incomoda e eu já sinto as pequenas vibrações do trem chegando.

16.11.11

Síndrome "Alice no País das Maravilhas"

Tudo me parece tão pequeno e distante e eu estou sempre atrasado e sem tempo.

22.7.11

Sleep

Apesar de todas as cobertas, antes de dormir ele retirava as meias e descobria os pés. Como se precisasse sentir o frio da liberdade.

13.6.11

Collapsing

Tenho desejado que no meio do caminho aconteça um acidente. Que algo aconteça ao acaso. Alguma força maior que me impeça de tomar decisões importantes. Que chegue logo o inevitável. Me sinto tão pequeno, acudido como um rato tentando se esconder. Tão pequeno fugindo de algo gigantesco que eu não sei o que é. Só sei que é assustador e eu não tenho a força necessária para encarar. Preciso de ar e não consigo me ajudar. Me sinto confortável preso nas ferragens.


Parecia que o mundo inteiro era uma longa tarde de domingo. Nada a fazer. Nenhum lugar para ir.

17.5.11

Late



Eu prevejo um acontecimento derradeiro. O fim de uma temporada. Do tarot eu tiro a carta da morte. Eu sinto a chegada de um novo tempo - assim como sinto o tédio pesado e angustiante de um tempo arrastado e velho e cansado. Uma nova onda cheia de possibilidades misteriosas está por vir e preencher espaços vazios. Enterrando momentos vividos e deixando só lembranças. Uma luz fraca está para se apagar de vez. Pare. Já estou atrasado.

9.5.11

Strange

Depois de ter passado pelo túnel, ele se sentiu completamente estranho. Como se estivesse em outra dimensão. Como se seu coração estivesse do outro lado. Parecia tudo completamente diferente, mas infelizmente não estava.

30.3.11

"No Expectations"



Ela: Acabei de ler um texto, olha só como termina: "Da minha parte, tudo que posso dizer é que viver, ultimamente, tem sido um intenso acumular de decepções com os seres humanos. Quando meu primeiro filho nasceu, escrevi para ele. Dei-lhe as boas vindas ao mundo, um mundo que não era exatamente um bom lugar para se viver, mas era o que tínhamos." É isso, é decepção com as pessoas, e eu gosto de ficar comigo mesma

Eu: Uma das coisas que eu "sigo", sei lá como posso classificar isso... É que expectativas só geram decepções... E a partir do momento que você pega essa frase pessimista e amarga e transforma em algo bonito, essa vidinha fica mais tranquila... Fica mais fácil sorrir e acenar :)

Chat despretencioso no MSN, ouvindo "No Expectations" dos Rolling Stones, enquanto trabalho scanneando dezenas de fotos de mais de 20 anos de uma família feliz.

10.3.11

Quaresma

Muita correria, hard working songs (Jump, da Madonna), siricutico, formigas na cadeira. Acho que não estou produzindo bem na agência. Lá estou no piloto automático, só pensando no lado de fora. Vontade de bater perna, fone sempre no ouvido, músicas sempre altas, pensando no próximo shuffle enquanto respiro coisa nova.

Pesadelos à noite. Hoje de madrugada acordei assustado e vi vultos em cima de mim. Enfiei a cabeça debaixo das cobertas bem depressa. Só queria voltar a dormir. Mas me deparava com o mesmo sonho bizarro: alguém se mutilava em pedaços até sobrar um pedacinho, depois pegava esse pedaço, escondia dentro de um radinho de pilha e passava por uma grade para outra pessoa que estava numa prisão. Lembro que quando acordei achei graça do sonho, depois me surpreendi como eu pude sonhar com algo assim e ainda achar graça. Fiquei com vergonha e depois percebi que eu era uma má pessoa por ter esses tipos de sonhos. Depois fiquei com medo porque vi os fantasmas de março.

Com certeza isso foi porque na manhã passada estava assistindo um programa matutino de entrevistas e uma religiosa que vende livros de simpatia dizia que esse período de quarta-feira de cinzas, quaresma, é um período em que as portas do inferno se abrem e todos os mortos perambulam pelo mundo. Fiquei ouvindo atentamente o discurso da mulher, que tinha um sorriso macabro e uma fala convicta. Dei de ombros com o assunto, mas acho que ficou na minha cabeça. Lembro muito bem de uma frase dela sobre acender velas nesse período: “eles (os espíritos) estão atrás de qualquer luz”.

25.2.11

Body Electric II

O que me cura, o que me adoece, o que me falta, o que me mata, o que me ataca, o que me repele, o que me excita, o que me deseja, o que me atrai, o que me afasta, o que me sufoca, o que me dói, o que me grita, o que me persegue, o que me abre, o que me fecha, o que me hipnotiza, o que me ama, o que me odeia, o que me emudece, o que me salva, o que me atiça, o que me eleva, o que me rebaixa, o que me esquenta é a mesma coisa que me esfria. Seus carinhos através de seus olhares.

21.2.11

Body Electric


Recebo seus carinhos com incertezas. Devo retribuir? Está carente? Gosta de mim? Mil dúvidas invadem minha mente, dúvidas ativadas na fricção de seus dedos macios. Fico inerte apesar do corpo elétrico. Estas a afagar um morto apesar de minha face estar levemente corada. Por que suas mãos quentes não conseguem aquecer minhas mãos tão frias há muito tão vazias? Sentimentos a flor da pela exalam, provocam e hipnotizam. Mas minha força é signo falso. Acovardado eu recuo para dentro da caverna inabitável. “E se o corpo não basta completamente tanto quanto a alma?” Ainda não sei se sou miserável por ser sozinho ou se sou sozinho por ser miserável... Não me conheço nada... Chego mais perto e vejo a silhueta de um monstro silencioso.

12.2.11

A Ilusão Viaja Comigo



As pessoas me questionam por que eu não dirijo. Por que dentro de uma grande metrópole, o que seria prático, seguro e conveniente eu não tenho um carro? Simplesmente digo que não tenho vontade de dirigir. Minto. Eles duvidam e logo começam a contar de como eles também já tiveram medo da direção e como conseguiram superar. Os falsos modestos até dizem que se eles que são eles conseguiram, por que eu que sou eu não conseguiria? Dou um riso sem graça. O medo não tenho. Motivos financeiros talvez me impeçam de ter um carro e até uma motocicleta, mas não me impedem de me tornar um motorista. Não dou essa resposta e sigo adiante. As pessoas não entenderiam meu principal motivo. A idéia de uma rotina por qualquer que fosse sempre me perseguiu. E ter uma ferramenta que te possibilita uma falsa idéia de liberdade me faz sentir-me descontrolado. Desagrada-me usar uma máquina tão poderosa, mesmo que seja um poder forjado e ilusório, para ir de uma prisão para outra. Gostaria de pegar uma estrada, ir para lugares que nunca estive, pisar em solos novos e de sentir o que a publicidade sempre apresentou: a sensação de liberdade, um ideal mágico de cruzar fronteiras na garupa de uma moto. A simplicidade de não estar no mesmo lugar sempre. Ir e voltar não me apetece. Quero apenas ir. Para qualquer lugar, para qualquer rua. O carro que não quero pilotar e a direção que não quero controlar apenas me distanciam da ilusão da liberdade. Mesmo com quilômetros rodados ainda estaria preso. Ainda seria eu mesmo. Sigo então a pé, com a música como amiga. Sigo então de transporte coletivo, com diversas companhias diárias. Sigo então deitado, com minhas ilusões dentro de sonhos estranhos e magníficos.

10.1.11

Sigh

A cada suspiro pesado que dava, o peso ia para as costas. Em dois anos ganhou uma corcunda.

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