Anteriormente em Season Finale...
Quantas estrelas se apagaram nos últimos 10 anos? Quantas estrelas se apagaram desde que olhei o céu pela última vez?
Há 10 anos entrei numa caverna. Convivi com monstros e fantasmas só para depois de muito tempo perceber que eram reflexos infinitos de uma solidão que não parecia ter fim. Pois então, estava sozinho nesta caverna. E a cada temporada que passava, mais eu me aprofundava no labirinto que eu mesmo criei. Nem lembrava mais da existência das estrelas. Apenas fitava o teto rochoso e escuro que me observava também.
E nos últimos 2 anos perdi um pedaço da vida. Não da minha própria, mas de alguém que sempre esteve do lado de fora. E foi preciso essa perda para eu perceber que eu realmente tinha perdido muito mais que um pedaço. Finalmente estava desaparecendo por completo.
E comecei a derreter. Gota a gota a caverna foi se completando. Soterrado em mim mesmo, sem fôlego e sem forças, fechei meus olhos e quando abri já não estava mais na caverna. A saída sem saída não se revelou com luz ou mensagens para seguir adiante. Eu agora estava num quarto escuro. No breu, tateando por um caminho desconhecido sem saber o que era chão, degrau, parede, eu avançava sem parar. Guiado apenas pelas batidas do meu coração.
Queria experimentar e conhecer.
E conheci. Conheci você, que me quis como eu sou. Mas sou incrédulo e sonhador. Depois te desconheci. Na esperança, o gostar reduz. Na frustração, o gostar acaba. E você se foi. E a saída da caverna é lenta. Nada ainda.
Eu sou o meu outro. Sou meu reflexo. Existo a partir das minhas experiências. Parece que existe algo que pode se desdobrar em minha mente. Que ainda pode me marcar. Mais profundamente. Basta existir para ser completo.
E finalmente a saída. E o lado de fora era algo que eu só ouvia pela boca dos outros e não acreditava. Eu era o lado de fora. Saí em mim mesmo. Um dentro do outro, do lado de fora. As possibilidades são infinitas e finalmente vivo o meu empirismo, meu hedonismo e minha adaptação. Um lobo selvagem avançou para cima de mim, se transformou em energia azul e entrou no meu peito. A forma como me enxergo é o jeito como também olho pro mundo.
Um vento fraco se transforma em ventania e assume a forma de uma tempestade à luz fraca e quieta durante um milagre perfeito. A minha realidade com um sabor que parece mel. E ao mesmo tempo que dura um nada eterno, eu sinto os toques, os cheiros, os sabores, os sentidos de uma dança rápida e lenta de alguém que conhecia e dos alguéns que vou conhecer. Se da primeira vez eu senti demais, da segunda, espero sentir o dobro. Sentir como eu sou. Um grande delírio sem a necessidade de febre, uma dança sem coreografia e sem protocolos.
Enquanto o mundo pega fogo lá fora, eu por dentro sou o coro dos pássaros ao amanhecer deslumbrado com a quantidade de estrelas que ainda existem e maravilhado pela luz das que se foram.
Continua...
Só o empirismo e a necessidade salvam! Adaptação. Sempre.
31.12.19
2.12.19
A Você
Nossos encontros e desencontros são intensos. Sempre saímos marcados (ou eu saio, digo por mim). Essas marcas não são negativas por todo, pelo contrário, as marcas são em sua maioria positivas. A importância do seu olhar pra mim, do seu abraço no meu corpo, no seu sabor que eu tanto senti e desejei, o cheiro que você deixou nas minhas coisas, a sua boca em minha, sua boca em minha pele, até suas cócegas heheheh, mas mais importante, todas as portas que vc abriu na minha existência. Tudo isso é muito maior de qualquer outra coisa que eu tenha sentido nesses nossos momentos juntos. Caminhar ao seu lado é algo que me deixou feliz. Acordar ao seu lado despertou sentimentos que eu realmente acreditava que eu nunca iria sentir. Isso é muito forte para mim.
Sei que errei em diversos momentos. E se eu te ofendi, lhe peço perdão. Te deixar irritada e triste ou pesada nunca foi meu objetivo. Pelo contrário. Eu viveria para te ver sorrir pra sempre. Viveria para ver a luz dos seus olhos sempre vivos e iluminados. Porque se existe alma, ela é refletida nos olhos dos outros. Viveria para ver você colocar as mãos na boca quando está feliz. Mas sei que não é algo provável. De qualquer forma, eu só quero te agradecer. Sou grato pelo que foi a sua presença em minha existência neste ano. Você foi uma faísca importante que acendeu o meu balão para ares que eu nunca tinha experimentado e respirado. Você me ajudou a sentir as coisas. Antes eu só (achava que) sabia delas. O querer que eu sinto ou sentia nunca foi possessivo, sempre foi aberto. Mas passar mais tempo com você, foi sim. Não que eu queria você só pra mim, mas a sua companhia foi algo que eu sempre quis presente. Nunca achei que fosse possível sentir isso por alguém. Imaginar algo a longo prazo, compartilhar existência, aprendizados, felicidades, tristezas. Ir adiante em dois. Eu vi que é possível. Senti que não é improvável para mim. E eu sou imediatista, não nego. E as vezes sofro com isso. Pois estou vivo só hoje. Nem hoje. Estou vivo agora. E viver o presente é algo que eu prezo, pois do amanhã nada sei. Está no meu imaginário. Não fujo da minha mortalidade. Não tenho expectativas, só desejos e vontades. E se eu quis realizar os meus desejos com você, não foi por mal. Se eu desejava que você seguisse por onde meus pés me levariam era porque eu te seguiria também.
Eu nunca vou deixar de me apaixonar ardentemente, eu nunca vou deixar de sentir intensamente. Eu sou assim. Eu sou uma pessoa sensível. Eu vejo o mundo em preto e branco e cheio de sensibilidade quando registro as pessoas na rua. Mas eu sei o quanto estou marcando aquelas pessoas na minha vida sem elas saberem. Por isso eu quero que você saiba definitivamente o quanto você me marcou, o quanto me apaixonei, o quanto desejei, o quanto imaginei o que não vivemos.
12.8.19
Chlamydia trachomatis
Um calor invadiu seu corpo. Sentiu vindo de baixo. Foi subindo e encontrou o frio do seu esofago - sua ansiedade. Suas entranhas ficaram com fome. Sentiu o vazio e o cheio por completo ao mesmo tempo. Suas pernas amoleceram e ele suspirou alto. Arrepio das costas à nuca. Revirou os olhos até se tornarem brancos por completo e uma luz forte invadiu sua vista.
Seu olho doeu por um instante. Tudo agora parecia mais claro. Ele ainda era iluminado pelas luzes artificiais do ambiente grande de trabalho. Mas tudo parecia mais claro, mais insuportável. O clarão branco que saia do seu notebook atrapalhava sua visão e lhe dava tontura. Olhou ofuscado pelo brilho do ambiente. Percebeu uma mistura de luzes acima de sua cabeça. Contou as lâmpadas. Dezesseis. Quatro amarelas e o restante brancas de LED. Lembrava hospital. O ambiente lembrava uma fábrica de roupas clandestina do Bom Retiro. Com bolivianos. Sem janelas de verdade. Sem saída de emergência. Estava tonto pelas luzes. E ansioso pela situação que não entendia. Sua perna esquerda agitada e inquieta num movimento incessante. Tentou se levantar, mas teve que apoiar à mesa para não cair. "Não foi pra isso que eu vim", pensou. "Eu tenho que sair deste lugar ou vou enlouquecer".
Todos continuavam a trabalhar normalmente. Somente ele sentia-se incomodado pela luz. Seu olho esquerdo começou a coçar loucamente. Derrubou seus óculos de grau e foi cambaleando para o banheiro masculino. O cheiro de lavanda com fezes infestam o local abafado e também sem janelas. A luz acendeu com seu movimento. Apoiou na pia, abriu a torneira, juntou a água com as mãos e lavou o rosto. Seu olho esquerdo ardia e coçava. Um colega saiu do cubículo e deixou o banheiro sem lavar as mãos. Imaginou toda a jornada das mãos do colega até ele chegar em casa. Ele ia tossir e cobrir a boca com elas. Ia usar a tela do celular com aqueles dedos não lavados. Ia apertar a mão do visitante antes da reunião. Ia segurar no corrimão do ônibus com as mãos não lavadas. Ia abrir a maçaneta da porta de casa. Ia afagar o pescoço da esposa com as mãos sujas. Não sujas visivelmente, mas sujas o suficiente nas profundezas. Ia fazer um cafuné na cabeça do filho e na cabeça do cachorro, que depois lambiria tudo. Até tomar banho e se lavar. Mas daí o estrago já estava feito. Estavam todos contaminados. Pensou se não foi o colega que o deixou assim, mas não. Ele sentava longe e não se cumprimentavam. Estava menos abalado pelas luzes, menos tonto, mas com a coceira no olho esquerdo. Encarou o espelho, abriu as pálpebras com os dedos e o branco do olho estava vermelho. As veias tentavam furiosamente chegar à íris esverdeada. Imaginou o que seria. Conjuntivite? Dois amigos estava assim na semana passada. Achou possível. Mas não explicava o clarão repentino. Nem a tontura. Lavou novamente o rosto, enxugou com aquele papel vagabundo que não seca nada e voltou ao seu lugar. A tela ainda ardia sua visão.
Pegou suas coisas e resolveu ir embora. "Não estou bem, trabalho de casa", digitou para sua chefe. A rua estava quente e abafada e sol mais claro que o normal. "Será se fico cego como no livro do Saramago?" pensou rindo de nervoso. Foi devagar até o ponto de ônibus. Coçava o olho esquerdo com força. "Quando vier o 7600 me avisa por favor?" pediu para uma senhora. "Claro, é o mesmo que o meu", ela respondeu. "Obrigado". Algum tempo depois o ônibus chegou e ele entrou. Lembrou dos corrimãos cheio de germes de mais das milhares de pessoas que não lavam a mão ao sair do banheiro e tentou não segurar em nada. Achou um assento vazio e seguiu a viagem sem deixar de coçar o olho esquerdo. E coçava e coçava. Olhou para sua mão que já estava com pequenas manchas de sangue. Assustado, tirou o celular do bolso, ligou a câmera frontal e fingindo um selfie, viu no reflexo o vermelhidão do seu olho esquerdo. Um pequeno borrão vermelho de sangue rasgava seu olho como uma maquiagem destruída pelas lágrimas e secada pelo vento. Sacou um Kleenex da mochila e pressionou no olho esquerdo. Ainda coçava muito, mas não queria piorar a situação. Da visão do seu olho direito vinha apenas o clarão. O dia mais claro que já viu. Reservados, nenhum passageiro o encarava. Seu Kleenex começa a encharcar. Desceu e acelerou o passo indo para casa. "Boa tard..." Nem respondeu de volta ao porteiro e abriu a porta do elevador rapidamente. Encarou o espelho. Com muito do que veria retirou o Kleenex do olho esquerdo. O horror. Seu olho esquerdo parecia um ovo quebrado. Mas sem as cascas. Tudo misturado. Gema e clara em íris e esclera. O vermelho sangue com o amarelo. As veias vulcânicas pulsando. Sentia o olho esquerdo quente. Fechou o direito e abriu as pálpebras do esquerdo. Estava tudo vermelho. Sua pressão começou a baixar assim que o elevador parou em seu andar. Tremendo, abriu a porta, fechou a porta com um estrondo e logo sentou-se no sofá. Seu gato chegou de mansinho. Não se assustou com o barulho da porta. Subiu em seu colo de um só pulo e o encarou. Seus olhos brilhavam intensamente. Mais bonitos que de costume. O gato encarava somente o olho esquerdo. O globo avermelhado. O ovo estourado. O pulsante vermelhidão. O núcleo de fogo. O Deus Sol. O gato lhe apalpou a perna esquerda agitada e inquieta e ele parou. Ficou imóvel, estupefato mirando o gato. O gato. Sua companhia solitária. Olhou para ele misteriosamente, abriu a boca revelando seus dentes afiados e disse com uma voz calma, grossa e reconfortante:
"Para os outros, o universo parece honesto. Parece honesto para as pessoas de bem porque elas têm os olhos castrados. É por isso que temem a obscenidade. Não sentem nenhuma angústia ao ouvir o canto do galo ou ao descobrirem o céu estrelado. Em geral, apreciam os "prazeres da carne" na condição de que sejam insossos.
Mas, desde então, não havia mais dúvidas: eu não gostava daquilo a que se chama "os prazeres da carne" justamente por serem insossos. Gostava de tudo o que era tido por "sujo". Não ficava satisfeito, muito pelo contrário, com a devassidão habitual, porque ela só contamina a devassidão e, afinal de contas, deixa intacta uma essência elevada e perfeitamente pura. A devassidão que eu conheço não suja apenas o meu corpo e os meus pensamentos, mas tudo o que imagino em sua presença e, sobretudo, o universo inteiro."
O gato pulou para fora do seu colo, pousou no chão elegantemente, ergueu o rabo e entrou na cozinha. Ele abriu lentamente os olhos e tudo estava em preto e branco. Olhou para a janela à sua esquerda e enxergou luzinhas amarelas. "Ufa, só está de noite", pensou aliviado e veio uma frase qualquer em sua mente: "a noite é o dia em preto e branco". Riu, levou a mão para o olho esquerdo e ele estava seco. Foi ao banheiro, acendeu a luz, encarou o espelho e seu olho esquerdo estava normal. Normal. Assim como o olho direito. Abriu as pálpebras dos dois olhos ao mesmo tempo e nenhum vermelhidão. Nenhuma coceira. Somente os borrões de sangue. A vista estava cansada. Pesada. Deitou a cabeça em seu travesseiro. Encontrou-se relaxado. E agora que ele encontrou, sumiu. Agora que ele sente, não sente mais.
Todos continuavam a trabalhar normalmente. Somente ele sentia-se incomodado pela luz. Seu olho esquerdo começou a coçar loucamente. Derrubou seus óculos de grau e foi cambaleando para o banheiro masculino. O cheiro de lavanda com fezes infestam o local abafado e também sem janelas. A luz acendeu com seu movimento. Apoiou na pia, abriu a torneira, juntou a água com as mãos e lavou o rosto. Seu olho esquerdo ardia e coçava. Um colega saiu do cubículo e deixou o banheiro sem lavar as mãos. Imaginou toda a jornada das mãos do colega até ele chegar em casa. Ele ia tossir e cobrir a boca com elas. Ia usar a tela do celular com aqueles dedos não lavados. Ia apertar a mão do visitante antes da reunião. Ia segurar no corrimão do ônibus com as mãos não lavadas. Ia abrir a maçaneta da porta de casa. Ia afagar o pescoço da esposa com as mãos sujas. Não sujas visivelmente, mas sujas o suficiente nas profundezas. Ia fazer um cafuné na cabeça do filho e na cabeça do cachorro, que depois lambiria tudo. Até tomar banho e se lavar. Mas daí o estrago já estava feito. Estavam todos contaminados. Pensou se não foi o colega que o deixou assim, mas não. Ele sentava longe e não se cumprimentavam. Estava menos abalado pelas luzes, menos tonto, mas com a coceira no olho esquerdo. Encarou o espelho, abriu as pálpebras com os dedos e o branco do olho estava vermelho. As veias tentavam furiosamente chegar à íris esverdeada. Imaginou o que seria. Conjuntivite? Dois amigos estava assim na semana passada. Achou possível. Mas não explicava o clarão repentino. Nem a tontura. Lavou novamente o rosto, enxugou com aquele papel vagabundo que não seca nada e voltou ao seu lugar. A tela ainda ardia sua visão.
Pegou suas coisas e resolveu ir embora. "Não estou bem, trabalho de casa", digitou para sua chefe. A rua estava quente e abafada e sol mais claro que o normal. "Será se fico cego como no livro do Saramago?" pensou rindo de nervoso. Foi devagar até o ponto de ônibus. Coçava o olho esquerdo com força. "Quando vier o 7600 me avisa por favor?" pediu para uma senhora. "Claro, é o mesmo que o meu", ela respondeu. "Obrigado". Algum tempo depois o ônibus chegou e ele entrou. Lembrou dos corrimãos cheio de germes de mais das milhares de pessoas que não lavam a mão ao sair do banheiro e tentou não segurar em nada. Achou um assento vazio e seguiu a viagem sem deixar de coçar o olho esquerdo. E coçava e coçava. Olhou para sua mão que já estava com pequenas manchas de sangue. Assustado, tirou o celular do bolso, ligou a câmera frontal e fingindo um selfie, viu no reflexo o vermelhidão do seu olho esquerdo. Um pequeno borrão vermelho de sangue rasgava seu olho como uma maquiagem destruída pelas lágrimas e secada pelo vento. Sacou um Kleenex da mochila e pressionou no olho esquerdo. Ainda coçava muito, mas não queria piorar a situação. Da visão do seu olho direito vinha apenas o clarão. O dia mais claro que já viu. Reservados, nenhum passageiro o encarava. Seu Kleenex começa a encharcar. Desceu e acelerou o passo indo para casa. "Boa tard..." Nem respondeu de volta ao porteiro e abriu a porta do elevador rapidamente. Encarou o espelho. Com muito do que veria retirou o Kleenex do olho esquerdo. O horror. Seu olho esquerdo parecia um ovo quebrado. Mas sem as cascas. Tudo misturado. Gema e clara em íris e esclera. O vermelho sangue com o amarelo. As veias vulcânicas pulsando. Sentia o olho esquerdo quente. Fechou o direito e abriu as pálpebras do esquerdo. Estava tudo vermelho. Sua pressão começou a baixar assim que o elevador parou em seu andar. Tremendo, abriu a porta, fechou a porta com um estrondo e logo sentou-se no sofá. Seu gato chegou de mansinho. Não se assustou com o barulho da porta. Subiu em seu colo de um só pulo e o encarou. Seus olhos brilhavam intensamente. Mais bonitos que de costume. O gato encarava somente o olho esquerdo. O globo avermelhado. O ovo estourado. O pulsante vermelhidão. O núcleo de fogo. O Deus Sol. O gato lhe apalpou a perna esquerda agitada e inquieta e ele parou. Ficou imóvel, estupefato mirando o gato. O gato. Sua companhia solitária. Olhou para ele misteriosamente, abriu a boca revelando seus dentes afiados e disse com uma voz calma, grossa e reconfortante:
"Para os outros, o universo parece honesto. Parece honesto para as pessoas de bem porque elas têm os olhos castrados. É por isso que temem a obscenidade. Não sentem nenhuma angústia ao ouvir o canto do galo ou ao descobrirem o céu estrelado. Em geral, apreciam os "prazeres da carne" na condição de que sejam insossos.
Mas, desde então, não havia mais dúvidas: eu não gostava daquilo a que se chama "os prazeres da carne" justamente por serem insossos. Gostava de tudo o que era tido por "sujo". Não ficava satisfeito, muito pelo contrário, com a devassidão habitual, porque ela só contamina a devassidão e, afinal de contas, deixa intacta uma essência elevada e perfeitamente pura. A devassidão que eu conheço não suja apenas o meu corpo e os meus pensamentos, mas tudo o que imagino em sua presença e, sobretudo, o universo inteiro."
O gato pulou para fora do seu colo, pousou no chão elegantemente, ergueu o rabo e entrou na cozinha. Ele abriu lentamente os olhos e tudo estava em preto e branco. Olhou para a janela à sua esquerda e enxergou luzinhas amarelas. "Ufa, só está de noite", pensou aliviado e veio uma frase qualquer em sua mente: "a noite é o dia em preto e branco". Riu, levou a mão para o olho esquerdo e ele estava seco. Foi ao banheiro, acendeu a luz, encarou o espelho e seu olho esquerdo estava normal. Normal. Assim como o olho direito. Abriu as pálpebras dos dois olhos ao mesmo tempo e nenhum vermelhidão. Nenhuma coceira. Somente os borrões de sangue. A vista estava cansada. Pesada. Deitou a cabeça em seu travesseiro. Encontrou-se relaxado. E agora que ele encontrou, sumiu. Agora que ele sente, não sente mais.
15.6.19
Sentido
São grandes as derrotas são grandes as conquistas são grandes as nuvens dentro do céu infinito e assim quanto mais azul mais além quanto mais além mais espaço quanto mais espaço mais tempo quanto mais tempo mais infinito quanto mais infinito mais universo quanto mais universo mais expansão quanto mais expansão mais luz quanto mais luz mais morte quanto mais morte mais vida quanto mais vida mais tempo quanto mais tempo mais precoce quanto mais precoce mais velho quanto mais velho mais experiência quanto mais experiência mais decisões quanto mais decisões mais tudo quanto mais tudo mais nada quanto mais nada menos sentir menos sentido.
Hoje
Eu quero alguém como você. Só que melhor.
Sem a desordem da sua instabilidade. Sem a sua bipolaridade. Sem a sua falta de interesse. Sem o seu egoísmo. Sem o seu desapego.
Esse desejo não me interessará em outro dia.
Sem a desordem da sua instabilidade. Sem a sua bipolaridade. Sem a sua falta de interesse. Sem o seu egoísmo. Sem o seu desapego.
Esse desejo não me interessará em outro dia.
19.5.19
Sonhando acordado.
Abri meus olhos involuntariamente, lutando com todas as minhas forças para voltar àquela condição em que o sonho me envolveu. Eu estava envergonhado de ter acordado. Fechei os olhos e tentei afundar de novo no outro mundo e fui expulso. Tentei todos os truques que já me aconselharam, mas nada. Era como tentar pegar uma bala no ar e faze-la voltar ao revólver.
O que restou foram os rastros do sonho. Em que me demorei para ler algum significado. Fui expulso dele para um mundo cuja solução para tudo é a morte.
Somente imagens pingando restaram. Recordações. Confundidas com a realidade. Realidade! Aquilo que abraça, sustenta e exalta a vida.
Recordação de um rosto. O rosto daquela que eu amava e perdi! Ampliado em uma beleza assustadora. Repentinamente entrando numa combustão espontânea e bela. Lábios separados em sede. Lábios famintos. E como plantas exóticas que se contorcem e se chicoteiam na noite, nossos lábios que finalmente se encontram, fechados e selados. Foi um beijo que afogou a lembrança de toda dor. Um tempo sem fim durou, por um período esquecido, como o espaço entre dois sonhos.
Depois estávamos separados olhando um para o outro com um único olhar hipnótico. Olhos unidos pela corrente elétrica do acontecido. Tudo era sem sentido. Como a união de dois ímãs, as partes sempre em busca finalmente se juntaram. Outra recordação se fez reconhecida: sua voz antiga. Então tudo foi interrompido. Uma escuridão profunda, mesclando os cenários e os personagens, sufocando o ar. Desaparecendo para depois reaparecer.
Agora ela está lendo em voz alta - passagens de um livro que devo ter lido.
Ela está deitada de barriga pra baixo, cotovelos dobrados, a cabeça nas duas palmas das mãos. Os lábios como duas pétalas que abrem e fecham. As palavras melodicamente disfarçadas.
É quando reconheço que são minhas próprias palavras que saem da sua boca. Palavras que nunca foram escritas ou digitadas, mas escritas na minha cabeça.
Percebo que ela não está lendo para mim, mas para um jovem deitado ao lado dela. Ele está deitado de costas e em seu rosto uma expressão de atenção de um devoto. Somente existem os dois, e o mundo não tem existência para eles. O que me separa deles é um abismo colossal, como um lago negro. Não há nenhuma possibilidade de comunicação. Eu tento desesperadamente enviar uma mensagem através do vazio, para que ela saiba que pelo menos essas palavras encantadoras são do livro da minha vida. Mas ela está fora dos limites. A leitura continua e seu êxtase só aumenta. Estou perdido e esquecido.
Então, por um instante, ela vira o rosto para mim, os olhos não revelando nenhum sinal de reconhecimento. A plenitude do rosto se foi. Ela ainda é bonita, mas não tem mais a luz fascinante. É o fantasma de uma beleza enevoada. Uma nuvem fugaz de uma lembrança. Ela agora desaparece como fumaça no império dos sonhos. Se ela morreu no sonho ou eu morri, não sei se nos encontramos no outro plano. Dormindo e sonhando, não poderia dizer. Por um instante infinito de tempo nossos caminhos se cruzaram, a união consumada, a ferida curada. Encarnados ou desencarnados, nós estávamos agora indo para o espaço, cada um em sua própria órbita, cada um acompanhado de sua própria trilha sonora. O tempo, com seu rastro sem fim de dor, tinha se dobrado. Estamos distantes um do outro, mas não separados. Rodando como as constelações obedientes das estrelas. Nada além do silêncio, raios e brilhantes colisões no reino dos anjos. Eu soube que encontrei a felicidade. Sabia outra coisa também. Que se fosse apenas um sonho ele acabaria, e se não fosse um sonho…
Meus olhos estão abertos e eu estou no mesmo lugar em que eu tinha ido para a cama na noite anterior. Outros ficariam contentes em chamar isso de sonho. Mas o que é um sonho? Só sei que os sonhadores, eles nunca aprendem. Fui drogado pelos esplendores desaparecidos de uma viagem fantasmagórica. Eu não podia nem retornar e nem partir.
Ela fez um aceno e me mandou um beijo de dentro do carro. Foi a última cena. Enterrada para sempre na minha retina.
Por fim, tudo foi uma ilusão. Esta é a minha conclusão. Por ora.
Somente imagens pingando restaram. Recordações. Confundidas com a realidade. Realidade! Aquilo que abraça, sustenta e exalta a vida.
Recordação de um rosto. O rosto daquela que eu amava e perdi! Ampliado em uma beleza assustadora. Repentinamente entrando numa combustão espontânea e bela. Lábios separados em sede. Lábios famintos. E como plantas exóticas que se contorcem e se chicoteiam na noite, nossos lábios que finalmente se encontram, fechados e selados. Foi um beijo que afogou a lembrança de toda dor. Um tempo sem fim durou, por um período esquecido, como o espaço entre dois sonhos.
Depois estávamos separados olhando um para o outro com um único olhar hipnótico. Olhos unidos pela corrente elétrica do acontecido. Tudo era sem sentido. Como a união de dois ímãs, as partes sempre em busca finalmente se juntaram. Outra recordação se fez reconhecida: sua voz antiga. Então tudo foi interrompido. Uma escuridão profunda, mesclando os cenários e os personagens, sufocando o ar. Desaparecendo para depois reaparecer.
Agora ela está lendo em voz alta - passagens de um livro que devo ter lido.
Ela está deitada de barriga pra baixo, cotovelos dobrados, a cabeça nas duas palmas das mãos. Os lábios como duas pétalas que abrem e fecham. As palavras melodicamente disfarçadas.
É quando reconheço que são minhas próprias palavras que saem da sua boca. Palavras que nunca foram escritas ou digitadas, mas escritas na minha cabeça.
Percebo que ela não está lendo para mim, mas para um jovem deitado ao lado dela. Ele está deitado de costas e em seu rosto uma expressão de atenção de um devoto. Somente existem os dois, e o mundo não tem existência para eles. O que me separa deles é um abismo colossal, como um lago negro. Não há nenhuma possibilidade de comunicação. Eu tento desesperadamente enviar uma mensagem através do vazio, para que ela saiba que pelo menos essas palavras encantadoras são do livro da minha vida. Mas ela está fora dos limites. A leitura continua e seu êxtase só aumenta. Estou perdido e esquecido.
Então, por um instante, ela vira o rosto para mim, os olhos não revelando nenhum sinal de reconhecimento. A plenitude do rosto se foi. Ela ainda é bonita, mas não tem mais a luz fascinante. É o fantasma de uma beleza enevoada. Uma nuvem fugaz de uma lembrança. Ela agora desaparece como fumaça no império dos sonhos. Se ela morreu no sonho ou eu morri, não sei se nos encontramos no outro plano. Dormindo e sonhando, não poderia dizer. Por um instante infinito de tempo nossos caminhos se cruzaram, a união consumada, a ferida curada. Encarnados ou desencarnados, nós estávamos agora indo para o espaço, cada um em sua própria órbita, cada um acompanhado de sua própria trilha sonora. O tempo, com seu rastro sem fim de dor, tinha se dobrado. Estamos distantes um do outro, mas não separados. Rodando como as constelações obedientes das estrelas. Nada além do silêncio, raios e brilhantes colisões no reino dos anjos. Eu soube que encontrei a felicidade. Sabia outra coisa também. Que se fosse apenas um sonho ele acabaria, e se não fosse um sonho…
Meus olhos estão abertos e eu estou no mesmo lugar em que eu tinha ido para a cama na noite anterior. Outros ficariam contentes em chamar isso de sonho. Mas o que é um sonho? Só sei que os sonhadores, eles nunca aprendem. Fui drogado pelos esplendores desaparecidos de uma viagem fantasmagórica. Eu não podia nem retornar e nem partir.
Ela fez um aceno e me mandou um beijo de dentro do carro. Foi a última cena. Enterrada para sempre na minha retina.
Por fim, tudo foi uma ilusão. Esta é a minha conclusão. Por ora.
10.5.19
A Visita ou A Qualquer Momento Vai Acontecer
- Não se assuste. Nem precisa se levantar. Hoje é uma noite como qualquer outra noite. A única diferença é que estou aqui te visitando e conversando com você. Sim, você não consegue falar, mas eu sei qual é a sua dúvida. Sim, você me conhece. Não pessoalmente, mas conhece. É que não sou exatamente uma pessoa. Mas eu existo. Não se preocupe, está tudo bem. Não tudo. Mas aqui e agora está tudo tranquilo. Aqui e agora é relativo também. Isso sim, não existe de fato. Mas o que interessa é que você está deitado na sua cama dentro do seu quarto. Estamos sozinhos. Quer dizer, você está. Isso também é relativo. Não quero te deixar mais confuso. E nem te esclarecer nada. Esse não é o meu propósito. Nem isso eu tenho. Desculpe por qualquer inconveniência. Eu costumo visitar pessoas assim, como você. Perturbadas. Desesperadas. Aflitas. Não se sinta especial, ninguém é. E isso não é um problema. A minha presença costuma deixar as pessoas menos perturbadas, desesperadas e menos aflitas. Não é uma regra. Isso também não existe. Já deixei muita gente muito mais desesperada. Foram situações extremas e elas terminaram. Nada de errado com isso. Isso também não existe. Nem certo, nem errado. Somente ações e consequências. E por incrível que pareça eu não tenho nada a ver com isso. Vocês agem, vocês consequências. De qualquer forma o que estou fazendo aqui é simples. Sim. Exatamente isso. Sim. Não consigo te responder isso. Não depende de mim. Ou você já sabe, ou você não quer saber. O que eu posso te dizer? Diz respeito a você compreender a importância de se abrir ao diálogo e à compreensão das coisas a partir do ponto de vista dos outros. Ouvir, neste momento, é condição fundamental para a harmonização da vida. Fale menos, escute mais, procure admirar a versão dos fatos e das verdades quando provenientes da boca do outro. Ainda que você não concorde com o que for dito, não rebata tão prontamente. Deixe-se admirar, colocar-se em posição de respeito pela voz alheia. A partir deste procedimento, uma série de bons entendimentos, acordos e reconciliações podem ocorrer. Os outros certamente se emocionarão com esta sua súbita disposição a escutá-los. Compreender o outro é o primeiro ato para atrair compreensão para si mesmo. Preciso ir. Não, não iremos mais nos encontrar. Tampa os ouvidos. Cubra seus olhos. Imagine outro ruído. Sonhe com outras cenas. Deixe sua realidade longe de mim.
“Como posso começar algo novo com tudo de ontem em mim?”
Leonard Cohen
"Desespero é a matéria-prima da mudança drástica. Só quem pode deixar para trás tudo o que já acreditava pode ter uma segunda chance para escapar da mediocridade do que vinha sendo."
William Burroughs
“Como posso começar algo novo com tudo de ontem em mim?”
Leonard Cohen
"Desespero é a matéria-prima da mudança drástica. Só quem pode deixar para trás tudo o que já acreditava pode ter uma segunda chance para escapar da mediocridade do que vinha sendo."
William Burroughs
8.5.19
Como um réquiem quando falam sobre o amor
Outro dia estava eu a embarcar num sono pesado, pesado e longo. Finalmente apaguei. Apaguei. E acordei com os olhos fechados sentindo o odor de mata fechada. Não havia som, só a paralisia. Foi quando percebi que da minha boca aberta saía uma fumaça infinita. A boca não se fechava, a fumaça só aumentava. Não estava desesperado. Estava apenas esperando, esperando que terminasse, esperando que me levassem, esperando que me buscassem, esperando que algo acontecesse. Nada aconteceu. A fumaça continuava a sair e saía, e saía e saía e saía e subia e subia no espaço infinito. Não ia pro céu, não ia pra terra, não ia pro mar, arrumava espaço em seu próprio espaço. Tudo que me cercava era fechado. A fumaça tomava conta do lugar. O incêndio é dentro de mim. Eu pensei: não, não sinto calor, não sinto frio, não sinto nada. Vinha fortemente de dentro de mim a fumaça que esfumava minha vista e me deixava a ver nada e ter nenhuma ação. Eu fechei os olhos novamente buscando acordar do sonho que não era sonho e também não era realidade. Nada e nada vinha e eu já acostumado com aquela situação já não, já não esperava nada e nada e do nada veio e começou a ventar e começou a chover e a fumaça chovia. Eu fiz a chuva. Começou a alagar. Eu flutuava na piscina que se criou e não sabia como boiava, apenas era isso. Fui subindo até onde a fumaça estacionou e não encontrei nada. Era tudo branco e vazio e eu ali boiando, literalmente, tentei fechar os olhos novamente para acordar, mas eu não estava dormindo. Eu nunca imaginei viver a realidade pessoalmente, mas ali ela estava na minha frente como os monções na Índia. Como um convite para desaparecer por completo. Como um réquiem quando falam sobre o amor.
29.4.19
Toque
Ah, se eu fosse um feiticeiro
Tomaria a sua rejeição
E transformaria em desejo certeiro
Num vendaval de afeição
Ah, se eu fosse um milagreiro
Tomaria o seu suspiro
Transformava-o em fogareiro
Incendiando meu respiro
Ah, se eu fosse um mago
Tomaria o seu pálido olhar
E com a força de um relâmpago
Faria da noite um amanhecer a brilhar
Ah, se eu fosse um sonhador
Tomaria o seu não
Rogaria por sim
Num suplício encantador
Ah, se eu fosse um imortal
Tomaria o seu desapego
Ninharia maternal
Num eterno aconchego
Ah, se eu fosse o seu desejo
Permearia o seu corpo
Desbravando em solfejo
No ritmo do seu contorno
Ah, se eu fosse a natureza
Tomaria a sua semente
Tiraria sua incerteza
Para florir eternamente
Ah, se eu fosse experiente
Buscaria em brincadeira
Por seu amor inconsciente
Porque não sei te amar de outra maneira.
Tomaria a sua rejeição
E transformaria em desejo certeiro
Num vendaval de afeição
Ah, se eu fosse um milagreiro
Tomaria o seu suspiro
Transformava-o em fogareiro
Incendiando meu respiro
Ah, se eu fosse um mago
Tomaria o seu pálido olhar
E com a força de um relâmpago
Faria da noite um amanhecer a brilhar
Ah, se eu fosse um sonhador
Tomaria o seu não
Rogaria por sim
Num suplício encantador
Ah, se eu fosse um imortal
Tomaria o seu desapego
Ninharia maternal
Num eterno aconchego
Ah, se eu fosse o seu desejo
Permearia o seu corpo
Desbravando em solfejo
No ritmo do seu contorno
Ah, se eu fosse a natureza
Tomaria a sua semente
Tiraria sua incerteza
Para florir eternamente
Ah, se eu fosse experiente
Buscaria em brincadeira
Por seu amor inconsciente
Porque não sei te amar de outra maneira.
27.3.19
Dois de Paus
Alguma coisa aconteceu e eu estou de ponta cabeça. Só percebi quando aconteceu. Um solavanco me deixou de ponta cabeça. Flutuando no meu próprio espaço dentro dos meus pensamentos. Uma inércia irônica que faz meu coração acelerar e sentir um frio na barriga. Estou estático por fora, porém na velocidade da luz por dentro. Uma divisão interna, um duelo entre o pessimismo que tanto já venceu e o otimismo, novato. Amaldiçoado se vencer, condenado se perder. O fantasma da insegurança recém falecida volta para uma visita particular. Fria, suas mãos passeiam no meu corpo. Fecho os olhos e tento esvaziar meus pensamentos. A mão fria da insegurança já está no meu peito. Não há uma distância segura entre meus medos e o sistema de toque. Minha cabeça volta a ficar enevoada e eu me perco em direções e decisões enroladas que tomei e as que tomarei. Pare. Observe tudo. "Esteja alerta para a regra dos três. O que você dá retornará para você. Essa lição você tem que aprender. Você só ganha, o que você merece". Testemunhe as energias em movimento. A clareza virá lentamente. O processo de decisão terminará e a escolha será clara. O que perderei? O que eu queria? Longe demais para ouvir a resposta. Silêncio.
"Esteja alerta para a regra dos três. O que você dá retornará para você. Essa lição você tem que aprender. Você só ganha, o que você merece". A Lei do Triplo Retorno Wicca
"Esteja alerta para a regra dos três. O que você dá retornará para você. Essa lição você tem que aprender. Você só ganha, o que você merece". A Lei do Triplo Retorno Wicca
19.3.19
Ogum me pediu fogo emprestado
Nos últimos cinco meses meu coração tem pedido atenção. No começo, ele acelerava e cessava a minha respiração. Eu suava e enxergava só pânico, desespero e morte. Duas, três vezes seguidas. Noites acordadas. Peito dolorido. Pernas inquietas. Só voltava aos batimentos normais com medicamentos fortes. Mas o que é normal para o coração mesmo?
Depois a ansiedade foi controlada por ansiolíticos. Estou medicado. Junto veio a sugestão de exercícios físicos para equilibrar o corpo, o coração e cérebro. Ok, vamos lá. Mas antes, um check up. Sempre evitei check ups e exames com medo dos resultados. Será que eu tenho algo? O que fazer se tiver? Daria tempo para viver como eu quero?
Bora lá. Sangue completo, ecos, ergométricos. Bum, bum, bum. Cada vez mais forte, mas agora por outro motivo.
No período durante os exames, o coração demandou atenção novamente. Virou o centro do meu corpo. Ele assim queimava, esfriava, pulsava harmoniosamente. Paixão. Violenta. Quase cega. Me derrubou geral. A única defesa foi a entrega. Estava me sentindo ótimo. Tive que ouvi-lo pela primeira vez por completo em 15 anos. E veio o espírito. E meu corpo reconheceu a paixão. Agora a paixão é por mim mesmo. Valorizo quem eu sou, me enxergo como amigos íntimos me enxergam. Aceitação verdadeira. Amores à primeira vista.
Corpo, mente e espiritualidades sãs. E coração também. Hoje busquei os exames e está tudo bem. "Continue assim", a doutora encorajou.
Me sinto protegido. Por mim mesmo e pelas minhas paixões. E pelo meu coração.
A vida é um caminho, e seres, sendo partes da vida, são eles mesmos vias deste caminho. Se reconhecemos esse fato e o aceitamos, estamos aptos, independente das vias e rotas, a conhecermos a paz e a apreciá-la. Mas para chegar a esse fim, que é apenas um começo (pois ainda não começamos a viver!), nós temos que aprender a doutrina da aceitação, isto é, da rendição incondicional, que é o amor. Próprio e pelos outros.
Descendo a rua, Ogum me parou um instante para pedir fogo, acendeu seu cigarro, me reverenciou, me olhou penetrante e seguiu seu caminho. Segui o meu. Numa nova via.
Depois a ansiedade foi controlada por ansiolíticos. Estou medicado. Junto veio a sugestão de exercícios físicos para equilibrar o corpo, o coração e cérebro. Ok, vamos lá. Mas antes, um check up. Sempre evitei check ups e exames com medo dos resultados. Será que eu tenho algo? O que fazer se tiver? Daria tempo para viver como eu quero?
Bora lá. Sangue completo, ecos, ergométricos. Bum, bum, bum. Cada vez mais forte, mas agora por outro motivo.
No período durante os exames, o coração demandou atenção novamente. Virou o centro do meu corpo. Ele assim queimava, esfriava, pulsava harmoniosamente. Paixão. Violenta. Quase cega. Me derrubou geral. A única defesa foi a entrega. Estava me sentindo ótimo. Tive que ouvi-lo pela primeira vez por completo em 15 anos. E veio o espírito. E meu corpo reconheceu a paixão. Agora a paixão é por mim mesmo. Valorizo quem eu sou, me enxergo como amigos íntimos me enxergam. Aceitação verdadeira. Amores à primeira vista.
Corpo, mente e espiritualidades sãs. E coração também. Hoje busquei os exames e está tudo bem. "Continue assim", a doutora encorajou.
Me sinto protegido. Por mim mesmo e pelas minhas paixões. E pelo meu coração.
A vida é um caminho, e seres, sendo partes da vida, são eles mesmos vias deste caminho. Se reconhecemos esse fato e o aceitamos, estamos aptos, independente das vias e rotas, a conhecermos a paz e a apreciá-la. Mas para chegar a esse fim, que é apenas um começo (pois ainda não começamos a viver!), nós temos que aprender a doutrina da aceitação, isto é, da rendição incondicional, que é o amor. Próprio e pelos outros.
Descendo a rua, Ogum me parou um instante para pedir fogo, acendeu seu cigarro, me reverenciou, me olhou penetrante e seguiu seu caminho. Segui o meu. Numa nova via.
12.3.19
Você está na minha visão periférica
Você está na minha visão periférica. Minha concentração abalada. Acendo um cigarro atrás do outro mesmo não querendo fumar. Bebo um gin para relaxar minha mente. Mas a paixão é mais forte. Estou doente de paixão. Daria tudo para estar ao seu lado, ao seu corpo, ao seu cheiro, ao seu gosto, ao seu sorriso. Daria tudo para me ver nos seus olhos de mel. Tão cheios de luz que iluminou minha existência apagada. Eu me percebi. Eu sou. Eu existo. Eu adoro quando você me faz cócegas, a coisa que eu mais odeio. Você ressalta meus defeitos para transformá-los em qualidades.
Tento não pensar duas vezes, não quero expectativas, quero decisões, se ele existe, quero seu amor. Eu estou no lado escuro da estrada e você ali, longe e iluminada. E eu parado, nuvens chorando, estrelas sumindo, e você ali, como a lua, longe e praticamente inacessível. A nossa intensidade me devorou como um lobo selvagem.
Eu penso em você e imagino o quanto de realidade é realmente real. E sim. Você existe. Há alguns quilômetros de distância você está lá. E eu estou aqui. E você também. Na minha visão periférica.
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